As emoções são as protagonistas de “Divertida Mente”, animação dos estúdios Pixar que estreia nesta quinta-feira. (Confira o trailer no fim do texto) Na história dirigida por Pete Docter (de “Monstros S/A” e “Up”), Alegria, Tristeza, Medo, Nojinho e Raiva coexistem na cabeça de Riley, uma garotinha de 11 anos que passa por um turbilhão ao ver sua família se mudar para outra cidade. Bastante inventivo, o filme tenta imaginar o que se passa dentro da cabeça da menina quando Tristeza tenta desbancar a supremacia de Alegria. Após se desentenderem, as duas acabam saindo da Sala de Comando e precisam se reunir para voltar até lá e reequilibrar a mente de Riley. O diretor detalhou suas ideias sobre o filme ao Metro Jornal.
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Como você entrou na mente de uma garotinha?
Observando minha própria filha. Quando pequena, ela era aberta, cheia de energia e sempre de bom humor. Ela fez a voz de Ellie criança no início de “Up – Altas Aventuras”. Um dia, tudo mudou: ela ficou introspectiva, absorvida por suas emoções, e eu comecei a pensar o que poderia estar acontecendo na cabeça dela. Esse foi o ponto inicial da história, na qual acrescentamos nossas memórias de adolescentes. Esse é um desafio real para a Pixar. A atmosfera do filme é muito diferente do que já foi feito. Essa era a intenção do estúdio desde o início: encontrar novas áreas que não tivessem sido exploradas ainda. “Divertida Mente” é certamente nosso projeto mais ambicioso até hoje. A parte mais complicada foi encontrar o equilíbrio entre todas essas emoções de forma a refletir o que a vida realmente é. É comum que momentos de alegria se misturem com tristeza e vice-versa.
O filme tem níveis diferentes de interpretação.
Adultos vão se lembrar de seus anos de adolescência ou do que passam com seus filhos. Adolescentes vão se identificar com Riley e os mais novos, que ainda não atingiram esse nível, vão aproveitar a comédia e a jornada de Alegria para encontrar a Sala de Comando. Pelo menos é o que esperamos!
Como foi a abordagem para criar a mente da garotinha Riley?
Conversamos com terapeutas e psicólogos para entender de que forma nossas emoções se conectam e evoluem. Nós precisávamos apreender todos esses detalhes para evitar a caricatura. A raiva, por exemplo, não é algo necessariamente ruim: ela é também a expressão de nossa necessidade de sobrevivência e de autodefesa. O mesmo acontece com o medo, que nos alerta sobre perigos reais.
Quais são suas referências estéticas?
Nós pesquisamos várias imagens de cérebros antes de percebermos que seria melhor representar a própria mente. A ideia não era retratar vasos sanguíneos, mas conceitos: pensamentos, memórias, emoções, imaginação… Tentamos tornar isso bastante orgânico, mas não tão em estado natural. Algumas formas nos lembram células ou o desenho intrincado do cérebro, mas tudo com uma grande dose de reinvenção.
E quanto aos personagens?
Eu queria antropoformizar as emoções para que elas parecessem com as sensações que representam. A primeira referência para Alegria foi uma estrela, porque ela é brilhante e seus braços estão sempre bem abertos. Para Tristeza, começamos com uma lágrima; para Raiva, um tijolo; para Nojinho, um brócolis e, para Medo, um nervo. Daí substituímos a pele por uma mistura de partículas que carregam a ideia de uma forma de vida mais abstrata.
Toque brasileiro
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“Divertida Mente” contou com a mão do carioca Léo Santos durante sua concepção. Coube a ele cuidar do layout da animação – uma função equivalente ao que faz a direção de fotografia de um filme com atores de carne e osso, definindo como serão as cenas. “A ideia é achar cedo os problemas da produção”, diz ele, que está na Pixar há cinco anos.
“Esse é o filme mais abstrato da Pixar, porque a mente pode ser qualquer coisa e o trabalho de design porderia ir em qualquer direção. Vamos limpando as ideias até chegar às mais simples, e essa simplicidade é que é muito difícil”, ressalta ele, que começou a trabalhar com publicidade e hoje tem o emprego dos sonhos. “É parte da cultura do estúdio experimentar coisas diferentes”, conclui.