Há pouco mais de 2.500 anos, um tsunami foi a salvação de uma cidade grega. Potideia tinha sido fundada pelos coríntios no ano 600 a.C. e estava prestes a ser invadida por guerreiros persas. Trata-se de uma área estratégica banhada pelo Mar Egeu, na península mais ocidental do norte da Grécia. Era um entreposto comercial portuário a caminho do Mar Negro.
Era inverno. Os invasores persas se aproveitaram da duradoura maré baixa, característica que costuma preceder eventos do tipo, para tentar invadir a cidade peninsular. Entretanto, antes que pudessem conseguir alcançar o alvo, os persas foram surpreendidos por um tsunami.
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Potideia foi salva pelos mares. Ou, como descreveu o historiador Heródoto (485-425 a.C.), salva por Poseidon, o deus dos mares.
Para Heródoto, as ondas gigantescas foram obra «da mão vingativa» do deus grego em um «ato de misericórdia». Em suas palavras, apontada como a mais antiga descrição de um fenômeno do tipo, tratam-se das «ondas de Poseidon». Certo é que se a maré baixa era um sonho para o ataque dos persas, a chegada do tsunami reverteu a sorte para o lado grego, dizimando aqueles que seriam o saqueadores da cidadela.
Como a ocorrência de tsunamis era desconhecida pelos gregos da época, Heródoto classificou a ocorrência como uma grande enchente sem precedentes. «Houve um grande declínio do mar, que durou muito tempo. E, então, uma grande enchente veio varrendo tudo, mais do que nunca, como contam os locais – embora muitas marés altas aconteçam frequentemente», escreveu o antigo historiador.
De acordo com o relato, centenas de soldados persas morreram afogados.
Arqueologia
Uma pesquisa geológica recente confirmou cientificamente que a descrição de Heródoto correspondia à de um tsunami que realmente afetou a região no ano de 479 a.C.
De acordo com o geólogo Klaus Reicherter, da Universidade de Aachen, na Alemanha, a análise de material obtido em escavações arqueológicas no local apontam sedimentos depositados por ondas marítimas de «alta energia», ou seja, de forma anormal, justamente no século 5 a.C.
«Interpretamos o relato histórico de uma maneira científica», afirmou o cientista, em evento promovido pela Sociedade Sismológica Americana, em San Diego, nos Estados Unidos, onde ele apresentou as conclusões de sua pesquisa.
O material escavado trazia, em uma camada correspondente ao século do relato de Heródoto, resquícios de conchas e fragmentos de outras épocas, anteriores, indicando que haviam sido trazidos do fundo do mar. Também foram encontradas conchas cobertas com uma quantidade anormal de solo, um resultado comum de tsunamis.
Reicherter e sua equipe aproveitaram a descoberta para alertar sobre os riscos de que outros tsunamis voltem a ocorrer na região, hoje um destino turístico repleto de resorts. Segundo o geólogo, a confirmação científica de que o relato de Heródoto estava correto é um indicativo de que a área é propensa a eventos do tipo.
Heródoto, o ‘pai da História’
Considerado o «pai da História», Heródoto foi o primeiro a não só tentar preservar o passado por meio de relatos escritos como também tratá-lo como um projeto e um problema filosófico para a compreensão do ser humano.
Na obra que acabou conhecida como ‘As Histórias de Heródoto’, ele relatou os fatos referentes à invasão persa na Grécia, no início do século 5 a.C. O livro possivelmente foi escrito entre os anos de 450 e 430 a.C. Há relatos que no ano de 445 a.C. o historiador fazia leituras públicas de seus escritos em Atenas.
Poseidon, deus dos mares
O deus invocado por Heródoto para explicar o fenômeno tido como estranho, Poseidon, na mitologia grega é considerado o deus supremo dos mares – e também dos terremotos. Na releitura romana antiga, ele acabou chamado de Netuno.
A ‘Ilíada’, um dos famosos poemas épicos da Grécia antiga – de autoria atribuída a Homero -, é o mais antigo registro que traz Poseidon como o deus supremo dos mares. Segundo a obra, ele comandava as ondas, as correntes, as marés e as tempestades – marinhas e costeiras. Tudo com o seu inconfundível tridente.
Segundo a mitologia grega, ele usava a água e os terremotos como instrumento de vingança – mas também podia colaborar com os gregos, ajudando-os em situações de guerra. Navegantes rogavam a Poseidon por viagens seguras e ventos favoráveis. Seu humor, entretanto, era tido como imprevisível.
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