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Os três meses mais terríveis da Segunda Guerra, quando foram mortos 25% de todos os judeus do Holocausto

Estudo mostra que em agosto, setembro e outubro de 1942, 1,47 milhão de judeus foram mortos.

Agosto, setembro e outubro de 1942 foram os meses mais terríveis da Segunda Guerra Mundial, quando foram assassinados um quarto de todos os judeus exterminados pelo regime nazista durante o Holocausto. Nos cerca de 100 dias do período, 1,47 milhão de judeus foram mortos – praticamente 15 mil mortes por dia -, o que faz da época uma dos mais sangrentas da história da humanidade.

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Essa concentração de execuções em um determinado período do Holocausto, no auge da operação batizada de Reinhard, é a principal descoberta de um estudo conduzido pelo pesquisador Lewi Stone, especializado em desenvolver modelos matemáticos e professor da Universidade de Tel Aviv, em Israel, e do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne, na Austrália.

Stone utilizou dados compilados pelo historiador israelense Yitzhak Arad, estudioso do Holocausto, sobre 480 operações de deportação em trens que partiram de 393 cidades e guetos poloneses com destino a três campos de extermínio – Treblinka, Sobibór e Belzec, todos construídos durante a Operação Reinhard na Polônia. Graças ao modelo matemático, Stone concluiu que as taxas foram predominantes nesse trimestre específico.

Considerando a quantidade de mortes no mesmo intervalo de tempo, a taxa de homicídios durante esses cerca de 100 dias foi 84% maior que a do genocídio de 1994 em Ruanda – o que faz, segundo Stone, a Operação Reinhard o genocídio mais intenso do século 20.

A pesquisa foi publicada na edição desta quarta-feira do periódico científico Science Advances.

«A Operação Reinhard (ocorrida entre 1942 e 1943) foi a maior campanha de assassinato do Holocausto, durante a qual 1,7 milhão de judeus da Polônia ocupada pelos alemães foram assassinados pelos nazistas. A maioria pereceu em câmaras de gás nos campos de extermínio de Belzec, Sobibór e Treblinka», contextualiza Stone.

«No entanto, o ritmo, as taxas de assassinato e a dinâmica espacial desses eventos foram mal documentados. Usando um raro conjunto de dados originado de registros de transporte ferroviário, meu estudo identifica uma fase extrema de morte hiperintensa quando cerca de 1,47 milhões de judeus – mais de 25% dos judeus mortos em todos os seis anos da Segunda Guerra Mundial – foram assassinados pelos nazistas em um intenso surto de 100 dias, cerca de 3 meses», conta o pesquisador.

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Letalidade

Conforme concluiu Stone, a Operação Reinhard «foi um evento extremo, com base na taxa de mortalidade, no número e na proporção», comenta o pesquisador.

Seu estudo apontou que 99,9% da população dos campos foi assassinada. «Destacamos seu caráter violento, mesmo em comparação com outros genocídios mais recentes», afirma. «A taxa de letalidade do Holocausto é cerca de dez vezes maior do que estimativas de genocídios semelhantes.»

De acordo com estudo do historiador Dieter Pohl, especialista em Holocausto e professor da Universidade de Klagenfurt, foram executados durante a Segunda Guerra entre 5,4 milhões e 5,8 milhões de judeus.

Destes, 2,6 milhões foram assassinados em campos de concentração e extermínio. Os mais letais foram Auschwitz – com 900 mil mortos -, Treblinka – 850 mil mortos -, Belzec – 435 mil – e Sobibór – 160 mil. Ou seja, segundo a descoberta de Stone, os prisioneiros destes três últimos foram completamente dizimados entre agosto e outubro de 1942.

Não à toa, Stone afirma que a campanha de extermínio nazista na Polônia seria ainda maior se houvesse mais judeus na região. Em outras palavras, a taxa de execuções caiu em novembro de 1942 não porque houve uma mudança de postura dos nazistas que ocupavam a Polônia, mas porque não havia mais judeus por ali a serem mortos.

«Assim, não é apenas que a Operação Reinhard tenha sido a maior campanha de assassinato em massa dentro do Holocausto. Ela também aconteceu em um ritmo incrivelmente rápido, muito maior do que anteriormente reconhecido», diz Stone.

Reinhard

A massacrante operação deve seu nome ao oficial nazista Reinhard Tristan Eugen Heydrich (1904-1942). Durante a Segunda Guerra, na Conferência de Wannsee – uma reunião da cúpula nazista ocorrida em janeiro de 1942 – ele acabou incumbido pelo comandante militar Henrich Luitpold Himmler (1900-1945) de coordenar a «solução» para a «questão judaica», como os nazistas se referiam ao fato de que, segundo eles, todos os judeus residentes em territórios ocupados pela Alemanha deveriam ser exterminados.

Adolf Hitler dizia que Reinhard Heydrich era «o homem com coração de ferro».

Embora a o Operação Reinhard tenha começado oficialmente em maio de 1942, o fato de as mortes terem se intensificado em agosto reflete os relatos históricos. Em 15 de agosto, Hitler teria ordenado que os esforços da famigerada «solução final» contra os judeus ocorressem «com velocidade máxima».

Reinhard Heydrich foi morto após um atentado executado pela então resistência tchecoslovaca. Ele teve seu carro alvo de uma emboscada e, uma semana depois, em 4 de junho de 1942, não resistiu aos ferimentos.

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