Ciência e Tecnologia

Game brasileiro que simula vida de ‘marreteiro’ tem previsão de lançamento para 2024: “O brasileiro em sua forma mais real, sincera e pura”

Em entrevista exclusiva ao Metro, criador revela que jogo sairá para plataformas Android, iOS e PC e tem previsão para lançamento até o final deste ano.

Quem anda ou já andou pelos trens e metrôs de São Paulo já notou uma figura carismática que disputa espaço com os passageiros, mas que está sempre à espreita de um ‘guardinha’.

Mais conhecidos como ‘marreteiros’, esses trabalhadores informais, muitas vezes mal vistos, ocupam os vagões afim de vender suas mercadorias, sejam elas produtos eletrônicos ou alimentícios.

Contudo, mesmo com o comércio ambulante sendo proibido no transporte público, muitos deles se arriscam para levar para casa o salário, assim como as milhares de pessoas que seguem nos vagões.

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Estas histórias inspiraram o programador Caio Rossi,que juntamente com um grupo de outros programadores, está desenvolvendo o ‘Shopping Trem’, game brasileiro que tem como objetivo demonstrar a “vida nos trilhos urbanos”.

“Trabalhei por mais de 20 anos usando como principal meio de transporte a CPTM e Metrô, e foram tantas histórias, emoções e aventuras vividas dentro daqueles 8 vagões que, como programador, precisei compartilhar. São Paulo inteira passa por aquele pequeno espaço; não há lugar nenhum como esse para entender quem é o brasileiro em sua forma mais real, sincera e pura”, explica Rossi.

Para o programador, o jogo, que tem previsão para lançamento ainda este ano, vai além do entretenimento, pois mostra a realidade de quem trabalha diariamente neste tipo de transporte.

“Para os usuários do transporte público, será uma oportunidade de se reconhecerem e se conectarem com as histórias dos marreteiros, compreender suas dificuldades e se colocar no papel de quem enfrenta trens lotados não como forma de transporte, mas como fonte de renda”.

Por se tratar de uma atividade ilegal, Rossi revela que os guardas do Metrô e da CPTM serão retratados com narrativas positivas.

“Abordamos a dinâmica de forma respeitosa e temos muito cuidado e carinho com eles. Buscamos criar uma narrativa positiva sobre os desafios enfrentados pelos vendedores e jamais transformar os guardas em algozes, e sim em vetores de conscientização e orientação. Já temos planos para o futuro e possíveis expansões com a possibilidade de jogar como um guarda, invertendo os papéis e a criação de uma plataforma multijogador online”.

Iniciativa independente

Para criar um jogo, é necessário, além do tempo trabalhado, também são necessários recursos financeiros, sendo este um dos maiores problemas enfrentados por programadores independentes. Isso não seria diferente com Shopping Trem, que busca formas de se financiar.

“Estamos explorando a possibilidade de diversas fontes de financiamento, incluindo incentivos, investidores, parcerias e financiamento coletivo. Buscamos apoio para levar adiante esse projeto inovador e oferecer uma experiência única aos jogadores sem propagandas que acabam com a experiência de jogo ou itens pagos o tornam pay-to-win”.

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Lançamento está previsto para 2024

O programador Caio Rossi revela que a primeira parte do jogo está prevista para ser lançada ainda em 2024, e que mais detalhes serão divulgados ao longo do desenvolvimento.

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“Atualmente estamos nos estágios iniciais do desenvolvimento, com a previsão de lançar as primeiras três linhas até o final do ano. Estamos comprometidos em entregar uma experiência de alta qualidade. Estamos loucos para lançar o quanto antes, contudo queremos ser fiéis e honrar a cultura dos trilhos, e para isso, tempo é necessário”.

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Rossi finaliza dizendo que, mesmo com vasta experiência na área de desenvolvimento, subestimou o processo da criação de um jogo, mas que se sentiu motivado após colegas se divertirem jogando o esboço do game.

“Por programar a muitos anos plataformas extremamente complexas (Trabalho com I.A muito antes do hype atual), subestimei o desenvolvimento de jogos. Quando entrei nesse mundo esperava algo mais simples e divertido, [mas] eu estava absurdamente errado, e todo o projeto se mostrou mais complexo e colossal do que imaginei. [...] Assumir um desafio como esse requer conhecimento e coragem equivalentes. [...] Se você leu essa matéria e curtiu o projeto, visite nosso site oficial, entre em contato conosco. Toda ajuda é bem-vinda, e desejo ver todos a bordo nessa viagem que será incrível!”. Acesse aqui o site oficial do jogo.

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Marreteiros também já foram citados em livro de poesias

Não é a primeira vez que esse personagem tão presente no cotidiano paulistano é citado em alguma obra, seja de ficção ou não. Em “Vão: trens, marretas e outras histórias” (Patuá, 2021), a jornalista Jéssica Moreira, morador de Perus, periferia da região noroeste de São Paulo, descreve sobre os marreteiros de forma poética, após observá-los por muitos anos na Linha 7 (Rubi) da CPTM.

“O trabalhador vive cansado, e os trens se tornam um reflexo disso. Procurei trazer nos meus versos um pouco desse cansaço também”, disse a cronista em entrevista ao site ‘O Tempo’.

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