Entre as tribos indígenas que ainda habitam a Amazônia brasileira, destacam-se os Marubo. Eles vivem no coração do Vale do Javari, uma região remota e protegida no noroeste do Brasil, e mantêm-se afastados de quase todos os luxos do ocidente. Sua comunidade é composta por várias centenas de pessoas, que compartilham suas profundas tradições espirituais e levam um estilo de vida ligado à natureza, dependendo do rio e da floresta para seu sustento diário. Seu isolamento é tal que também não falam português, pois na verdade pertencem à família linguística Pano. E embora exista um grupo que luta para manter seu território longe das ameaças externas, há outras pessoas que sucumbiram à tecnologia.
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Isso ocorreu em setembro de 2023, quando receberam a visita da Starlink, uma empresa de satélites de Elon Musk, que instalou seus equipamentos com o objetivo de fornecer conexão à internet para a tribo e ensiná-los a usá-la em caso de emergência. O problema? Seus membros mais jovens adotaram esse recurso e o tornaram parte de seu dia a dia, tornando-se "viciados" em redes sociais e até mesmo em pornografia.
O problema com a tribo Marubo
O acesso à internet através da rede Starlink de Elon Musk conseguiu transformar a vida da tribo Marubo na Amazônia brasileira, e talvez para sempre. A introdução de 20 antenas de internet via satélite em sua aldeia abriu uma janela desconhecida: problemas inesperados entre os jovens da comunidade, que desenvolveram uma crescente dependência das redes sociais e da pornografia.
O The New York Times conversou com Tsainama Marubo, um idoso de 73 anos, que expressou que inicialmente todos estavam felizes com a chegada da internet, que permitia à comunidade de aproximadamente 2.000 pessoas manter contato com entes queridos e gerenciar emergências de forma eficaz.
No entanto, logo perceberam uma mudança importante no comportamento dos jovens, que começaram a abandonar as atividades tradicionais da tribo, como a produção de tinturas e joias. “Os jovens estão ficando preguiçosos por causa da internet. (...) Estão aprendendo os costumes dos brancos,” disse ao jornal citado.
“Todos estão tão conectados que às vezes nem mesmo falam com sua própria família”, lamentou outro membro da tribo, Alfredo Marubo, em referência a este uso “problemático” da internet de Elon Musk que também estaria levando os jovens a um comportamento sexual mais agressivo. Em resposta, os líderes da tribo decidiram implementar um acesso mais limitado à internet, restringindo a conexão a duas horas todas as manhãs, cinco horas todas as tardes e durante todo o domingo.
Embora os benefícios da internet continuem sendo claros, especialmente em situações de emergência em que é necessário manter contato com o mundo exterior, a comunidade também enfrenta desafios significativos, como a exposição a conteúdos inapropriados, golpes e a influência negativa de conteúdos violentos e redes sociais viciantes.
Ainda não existe uma "solução", e não sabemos se este será o fim dos Marubo. Sua capacidade de absorver a tecnologia sem perder suas tradições será vista com o tempo, enquanto os debates sobre o impacto da internet em culturas tradicionais e remotas se intensificam.