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Entre vitórias e derrotas

Li, nesse fim de semana, nas páginas amarelas da revista Veja, uma reportagem que me chamou muito a atenção. De repente lá estava eu diante de um dos maiores ídolos do esporte em todos os tempos: Mike Tyson.

O menino pobre que através dos seus punhos de aço conseguiu realizar o sonho americano de ser rico e famoso. Bem ao contrário do que muita gente imagina, Tyson nunca foi só força bruta. Estudava estratégia de pugilistas que marcaram época do passado e quando não terminava com seu adversário em míseros segundos, colocava em prática o que via nos vídeos em branco e preto de Joe Louis, Rocky Marciano, Jack Dempsey ou os já coloridos de Muhammad Ali, Joe Frazier, George Foreman e outros mitos em verdadeiros shows da então nobre arte.

Era um show de boxe! Mas, ao mesmo tempo que esmagava os seus oponentes, o imbatível Mike derrubava as bolsas de aposta e fazia da luta o espetáculo previsível, quase sem graça, em que o único atrativo era saber em qual round o adversário cairia. E além de tudo era um ídolo negro, o que num país onde ainda na década de sessenta restaurantes, cinemas e teatros (e escolas também) segregavam afro-americanos. As coisas eram mais difíceis.

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Mike Tyson foi acusado de estupro (que ele nega), jogado na cadeia. Perdido na violência e nas drogas, declarou falência pessoal em 2003, sofreu tragédia familiar e foi para o fundo do poço. Literalmente à lona. É um típico exemplo do que disse um dia Gabriel Garcia Marques: “A fama quase me mata”.

Mas como tudo na vida passa, deu a volta por cima. Disse que hoje tem o suficiente para viver e que, depois de uma vida de sonhos, a realidade o faz feliz e nos faz lembrar: o quanto vale a pena ter? Ou é melhor viver para ser?

Mike Tyson continua meu ídolo e tem todo meu respeito como ser humano, afinal todos nós somos assim: mais feitos de falhas do que de virtudes. Fernando Pessoa foi muito feliz quando escreveu que nunca conheceu quem tivesse levado porrada, afinal todos os seus amigos tinham sido campeões em tudo.

Claro, é difícil conhecer quem admita uma derrota. Tolo quem não o faz, porque só quem cai é que pode se levantar com dignidade e honra.

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