Uma expressão de há muito definia a turma jovem dos anos 80 como “geração Coca Cola”. Eu nunca soube ao certo o significado disso. A turma dessa época era mais sonhadora, mas mais ousada, mais corajosa. Hoje estamos diante de uma garotada diferente. Muito mais antenados que nós dos 80, capazes de “assoviar e chupar cana”, com acesso a bens de consumo que nem sonhávamos ter. Mas estamos vendo crescer uma geração fraca, treinada para desviar-se de culpas, induzida a sublimar a dor ou evitá-la. Tudo é culpa de alguém, jamais do autor do fato ou de sua omissão diante daquilo que deveria fazer. Explicações mirabolantes são desfiadas a cada momento que um determinado problema ocorre, evidenciando incompetência, falta de planejamento ou incapacidade de gerir ou aplicar as soluções e métodos necessários para prever a repetição do evento no futuro ou consertar os estragos. E a “empurroterapia” grassa. A situação econômica do país está ruim? Não é culpa minha, sou engenheiro. Estou insatisfeito com determinada lei? Não é culpa minha, só tenho o meu voto. Curiosamente, opinar todo mundo quer, principalmente sobre aquilo que não se compreende. Além de, claro, criar ou difundir teorias das mais ridículas para explicar aquilo que não se faz a menor idéia do que seja, mas que se acredita ter ocorrido de tal modo. Semana passada, fomos atropelados naquilo que supostamente mais define nossa “identidade nacional”: o futebol. Uma equipe treinada há 12 anos pelo mesmo grupo, formada por jogadores preparados física e emocionalmente para qualquer resultado, forjada para jogar conforme planejamento técnico e estratégico esmagou um amontoado de jogadores atônitos, mais amarelos que suas camisas, que alternaram o choro convulsivo e a alegria infantil. Sobre os chefes da entidade maior pesam acusações formais de crimes. Pois quem aponta para o ridículo é tachado de antipatriota, como se ser patriota fosse medido pela torcida para um time de futebol, vôlei etc. Um sujeito que ganha milhões de dólares para chutar bola tem a obrigação de suar sangue para mostrar seu valor. Quando erra, deve aparecer perante seu público e assumir seu erro, sua fraqueza. Mas a geração xilocaína é induzida a ter pena, a torcer para um resultado positivo no exame antidoping do adversário, a acreditar que uma conjugação de bruxarias subtraiu nossa taça ou que um adversário foi comprado para machucar nossa “arma mortal”. Uma garotada que cresce com medo de sentir dor, anestesiada para a vida, tolhida das etapas do amadurecimento. Apequenada em sua cidadania.
Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional.