Há mais de 20 anos, entra governo e sai governo, a situação das contas públicas só se agrava. E por que precisamos falar sobre isso? Porque com um orçamento historicamente estourado e governos que não invertem o ciclo crescente de déficits sucessivos, a galinha dos ovos de ouro vai morrendo. Hoje está manca, com falta de ar, com bico quebrado e quase sem penas. Já não bota ovos, embora coma cada vez mais milho. Em suma, a galinha é o Estado, que por falta de dinheiro, não consegue mais devolver os serviços públicos que os cidadãos têm direito, sobretudo educação, saúde e segurança. E estes direitos temos não é porque o governo A, B ou C é bonzinho, mas porque pagamos caro por eles.
Dentre tantos, há alguns fatores que devem ser levados em conta: a gradativa desindustrialização, com perda de força e competitividade, por exemplo. Isso significa menos arrecadação e empregos. Segundo informa o economista Igor Morais, de 2003 até agora, o PIB gaúcho cresceu em média 2,70%, enquanto o da indústria apenas 1,05%. Como se não bastasse, a carga tributária local subiu acima do PIB, chegando a 3,15%. Já o gasto do governo com servidores públicos também não para de crescer: 7,6% deste ano para o próximo, justamente em um momento de estagnação econômica aqui e no país inteiro. E o Instituto de Previdência do Estado? As despesas com funcionários inativos chegaram a R$ 9,7 bilhões, sendo que R$ 6,5 bilhões é déficit e tem que ser colocado pelo Tesouro. Alguém acha sustentável tamanho desequilíbrio? Nem David Copperfield conseguiria fazer a mágica de tornar essa conta razoável.
Por estas e outras que minha expectativa em relação ao governo Sartori não é das melhores. Sou realista. O gringo gente boa não parece ser do tipo que topará enfrentar corporações e fazer a dolorida e necessária cirurgia. E talvez nós gaúchos não queiramos mesmo. Com pena de quebrar os ovos, nunca fazemos o omelete. Mesmo morrendo de fome, preferimos pagar o preço.