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O Haiti somos aqui

A atual crise dos imigrantes na Europa, mais que uma questão geopolítica, é uma questão ética e humanitária, pelo menos deveria ser. Estamos chocados, algumas pessoas e grupos políticos acham que é o momento de a Europa – o centro do mundo – rever as formas como manipula a economia mundial e as relações de poder com os países pobres. Sabe-se que os discursos que provocam guerras, religiosas ou não, sempre ocultam interesses cujo principal objetivo é o poder, é o dinheiro. Fronteiras de arame farpado, de língua, de diferença de deuses, de cor de pele, de etnia, sempre foram erguidas para beneficiar uns tantos, se apoderar dos bens materiais, culturais, espirituais dos outros, daqueles que devem permanecer do lado de lá. Às vezes até se permite a entrada desse outro, para limpar as sujeiras, para fazer o serviço muito sujo ou muito pesado que não é para mim nem para meus filhos, como o favor de criar – como se fosse da família – a menininha pobre que veio da roça, num sistema de semiescravidão.

No Brasil, o que se evidenciam são as contradições dessa sociedade que já foi considerada como uma real e nova possibilidade de convivência entre credos e raças. Mas os fundamentalismos, que demonizam a diferença, quer seja religiosa, de classe social, de opção sexual ou de aparência externa, como traços raciais ou aspectos físicos, esses sim, se alicerçam pelo ódio, estão aí, com a força bruta e burra que não deseja esclarecimento.

Sempre ouvi dizer que estamos em tempos de mudança, concordo, o mundo e as formas de interação entre as pessoas estão em um movimento contínuo, mas com isso não quero dizer que esse movimento seja sempre em direção a um ponto bom. Infelizmente, pelo que observo nesse tempo em que penso o mundo, sinto essa caminhada para uma sociedade “tecnocida” em que, possivelmente, o ser humano deixará de ser constituído pela carga de humanidade, pensada de forma positiva, que poderia fazer deste planeta um lugar habitável para todos.

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Sim, realmente, as imagens e os relatos do sofrimento dos migrantes que tentam entrar na Europa são chocantes, assustam, apavoram e até emocionam os mais sensíveis. Então devemos olhar para o lado, olhar e buscar entender o outro que vive ou tenta sobreviver, na rua, no trabalho, na escola, na cadeia, na periferia, na favela. É difícil, mas não devemos esquecer, o poeta avisou há algum tempo. Vou parafraseá-lo: o Haiti somos aqui.

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