Não tenho bem certeza, mas penso ter sido em “Crimes e Pecados”, filme de Woody Allen. O personagem vivido por ele diz, num dado momento: “Somos a soma de nossas escolhas”. A frase talvez nem seja tão brilhante assim, mas naquele momento, talvez pelas circunstâncias do filme, tornou-se marcante. Porque somos mesmo resultado das escolhas sobre “o que dizer, o que calar, aonde ir…” E essas escolhas podem ser para muitos anos, como a pessoa com que vai se viver durante anos e anos, como as mais prosaicas, como optar entre salada ou filé mignon no almoço. E elas são constantes – e, por isso, cansativas, a ponto de muitas vezes entregarmos para outras pessoas a tarefa de escolher ou fazer por nós.
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Isso ocorre o tempo todo. Pedimos a opinião de amigos sobre bicicletas e carros, pães e cafés, cervejas e vinhos… Não se sabe exatamente o motivo, mas no caso do vinho a escolha chega revestida de alguma responsabilidade especial, como se o autor da escolha dominasse algum mistério da natureza ou tivesse uma sensibilidade especial. Um exagero. Mas isso ocorre, principalmente quando a pessoa descobre que alguém por perto tem o hábito ou o hobby de provar, ler e escrever sobre tintos e brancos. A pergunta surge, naturalmente: “O que você me sugere?”, pergunta a pessoa. O problema é o vasto universo de opções. Se for tinto, temos a possibilidade de provar algo leve, como um Pinot Noir, ou um Malbec mais pesado; um Syrah de safra recente ou um Cabernet de alguns anos de guarda. A lista se repete no caso dos brancos. E chega ao infinito quando se inclui na lista espumantes, rosés, vinhos doces, fortificados…
De qualquer, é sempre um prazer enorme tentar ajudar. Até mesmo porque se uma escolha é aprovada, estabelece-se um tipo de cumplicidade curiosa: “Gostou desse vinho? Quem escolheu para mim foi fulano. Acertou meu paladar…”
Os vinhos sugeridos hoje são aleatórios, não foram escolhidos a partir de uma degustação, de uma visita a vinícola ou de conversas com enólogos. São garrafas provadas ao longo desse ano. Algumas são mais difíceis de encontrar ou um pouco mais caras, mas, acredite, vale a pena experimentá-las. Mesmo porque a escolha, toda escolha, pode dar certo ou não. Só que quem não tenta não acumula conhecimento. Não soma nada. Permanece numa zona de conforto. Sem risco. Mas também sem prazer…
André Andrès é colunista de vinhos há sete anos. Mas sabe que ainda tem muito a aprender sobre tintos, brancos e espumantes