Afinal de contas, para quem Michel Temer governa? Sua gestão não atende aos intereses de 93% da população. Esse é o índice, apontado pela última pesquisa Datafolha, dos brasileiros que consideram seu governo ruim ou péssimo. Temer também não atende a expectativa de 65% da população, para quem, segundo a mesma pesquisa, a melhor atitude do presidente seria deixar o governo. Ou seja, renunciar, pura e simplesmente, como voltou a sugerir ontem o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Assim como ocorreu com Dilma e Collor, Temer se apega ao poder para atender à sua vaidade, característica comum de todos os políticos.
Num ato patético, o presidente, dias atrás, convocou parlamentares para participar de seu pronunciamento contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Compareceu um punhado de deputados de pouca relevância, sinal evidente da falta de apoio do presidente no Congresso. Temer tem tentado emitir sinais de tranquilidade e otimismo em relação à votação da denúncia de corrupção, apresentada contra ele por Janot. Demonstrando uma confiança talvez exagerada em sua base de apoio, ele apresentou sua defesa antes do prazo e trabalha para a antecipação da votação. Temer é político experiente, mas experiência pode significar pouco num ambiente tão imprevisível quanto o plenário do Congresso, onde lealdade é artigo raro. Exemplo? Cleto Falcão, líder do governo Fernando Collor, não teve dúvidas quando teve de escolher, diante de todo o país, entre sua carreira política e o futuro de um presidente politicamente moribundo: votou pelo impeachment do ‘aliado’. Os dois nunca mais se falaram…
Montado em eternas incertezas, o PSDB se divide entre manter ou não o apoio ao presidente. Mas a ala contrária à permanência no governo é cada vez maior. Mesmo setores do PMDB, partido do presidente, não lhe garantem apoio. É sintomático o fato de o Planalto ter ficado desconfortável com a indicação de Sergio Zveiter para relatar a denúncia contra o Temer na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O deputado, do PMDB, foi considerado “independente demais” pelo presidente e seus aliados.
Temer ainda se agarra a dados macroeconômicos para tentar se mostrar vivo. Tem a esperança de ver a reforma trabalhista aprovada. E só. Seu governo não tem mais perspectiva, não tem projeto, não tem apoio, não tem futuro. O presidente teria um ato de grandeza se atendesse ao desejo da maioria da população e renunciasse. Mas ‘grandeza’ e Temer não habitam a mesma frase. O presidente prefere submeter o país à sua vaidade pessoal (mesmo porque não se pode nem mesmo falar em projeto de poder) à admitir o óbvio: seu governo chegou ao fim, mesmo que este fim seja prolongado artificalmente, por conta de acertos políticos, garantindo ao presidente um poder tão fantasmagórico quanto sua figura…