O futebol é amador e, também por isso, paternalista. Talvez o futebol brasileiro seja mais amador ainda e então mais paternalista. E isto também é consequência da falta de preparo dos dirigentes, o que não significa dizer falta de dedicação. Reconheço que são abnegados, quase sempre trabalhando sem remuneração, embora isso não represente competência. Contentam-se com a visibilidade, que massageia o ego e os torna celebridades da noite para o dia. Mas não têm o costume de estudar, preparar-se para desempenhar funções tão desgastantes e exigentes. São amadores na essência.
O caso atual deste paternalismo atende pelo nome de Bolanõs. O Grêmio investiu alto, mais de R$ 20 milhões, para conquistar o vínculo do equatoriano. E tem frustrado seu investimento. No primeiro ano devido à lesão que o afastou meses dos gramados. E agora porque simplesmente ele não quer jogar. A primeira explicação para a série de ausências do jogador no time foi de que ele teria uma lesão no púbis. Bolaños foi acumulando pedidos para ficar de fora de viagens e jogos por “problemas particulares”, nunca esclarecidos. Renato desmontou a tese, desmoralizou que anunciava lesão no púbis, e anunciou que, na verdade, Bolaños não estava focado no trabalho. Então o vice-presidente de futebol, Odorico Roman, saiu-se com a esfarrapada desculpa de que o jogador teria ficado assustado com as críticas desde que chegou à Capital.
A postura do dirigente é um comportamento típico deste paternalismo nefasto com o qual convivemos no futebol. O Grêmio investe uma babilônica, paga um ótimo salário, e o jogador não quer entrar em campo porque está pressionado pelas cobranças?
Se Bolaños não quer jogar então não tem que receber! Ou que indenize o clube do investimento, pegue seus badulaques e vá embora.
Imagine você, prezado leitor, dizendo hoje a seu chefe que não quer mais realizar as atividades que lhe são incumbidas no trabalho. Beleza. Pode procurar emprego.
Mas no futebol não funciona assim. Um par de anos atrás foi o argentino Scocco que decidiu pular da barca vermelha porque não tinha “adrenalina” para atuar no futebol brasileiro. Quando o clube não quer o jogador, é obrigado a pagar seu salário, até negociá-lo. Ou seja, deve cumprir a sua parte do contrato. Mas não há reciprocidade. O jogador não quer jogar e continua recebendo! E recebendo bons salários, convenhamos. Ou estes contratos são malfeitos ou os clubes são, sim, dirigidos de forma amadora e paternalista.
A tentativa de união dos clubes do futebol brasileiro, que teve como consequência a realização deste Frankenstein chamado Primeira Liga, deveria tratar também deste assunto. Os próprios clubes acabam se sabotando, quando contratam um jogador que está em litígio com o outro clube. A rivalidade é maior que o bom senso. E engole a gestão corporativa. Ou seja, somos mesmo amadores.