Poucas palavras são tão pronunciadas no mundo moderno como “democracia”. O termo é de origem grega e significa, literalmente, governo do povo, ou poder que emana do povo. Como é impossível aferir a cada instante e para cada ato de escolha ou renúncia a vontade individual dos milhares ou milhões de cidadãos de um município, estado ou país, ao conceito de democracia foi agregado outro, a representação.
Há mais de dois mil anos, os cidadãos gregos (aqueles que tinham direito ao voto) eram reunidos na praça mais importante e decidiam assuntos relacionados ao cotidiano, à administração, às guerras e tratados de paz, à distribuição de recursos e tantos mais que fossem do interesse da polis (nome de cidade em grego), fazendo surgir o termo “política”. Milhares de Tiriricas e alguns Ulisses depois, toda vez que algum assunto de interesse da cidade ou do povo é posto à discussão pública, está-se “fazendo política” e como somos milhares de vezes mais numerosos que os atenienses de outrora, essa “política” se dá por meio de representantes escolhidos (eleitos) para, em nome de seus eleitores, decidirem aquilo que necessariamente deve ser bom e valioso para a sociedade.
Quando apenas um ou alguns poucos decidem pela massa de cidadãos, sem ouvi-los ou levar em consideração sua opinião ou anseios, está-se diante de uma ditadura. Quando todo mundo quer mandar e ninguém respeita as opiniões e valores uns dos outros, caminha-se para a anarquia. A democracia, já dizia Churchill, “é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.
Mas a democracia tem seu preço e dois componentes mais importantes na “composição” desse preço são o respeito à opinião dos demais e o compromisso que cada cidadão tem que ter consigo próprio e com a sociedade de escolher o melhor candidato para representar seus interesses. Bom lembrar que esses interesses são os que dizem respeito à cidadania, como seriedade no trato com a coisa pública, qualificação para o desempenho das funções, respeito aos valores democráticos e espírito público. Toda vez que eu escolho um candidato porque ele, se eleito, se servirá do cargo para proteger interesses meus, de minha família ou categoria profissional, estou cometendo um crime contra a sociedade.
O mesmo se diz quando a motivação é ideológica, religiosa, ou até por vingança. No primeiro turno de uma eleição, aquilo que realmente distingue uma sociedade de uma manada de gente, é o exercício da escolha, livre e consciente, daquele que para cada um exprime os seus valores mais caros e importantes. A impressão digital de nosso caráter. Nossa escolha mostra quem somos. Voto útil é um crime contra si mesmo e contra a democracia. Afinal, útil para quem?