Sou um admirador da ciência das pesquisas desde minha carreira como redator publicitário. A diferença entre compor campanhas a partir de um briefing 100% baseado nas informações do contratante, ou de fazê-las amparadas em informações + pesquisas era enorme. Ou seja, muito mais fácil acertar a abordagem, o conteúdo e as mídias conhecendo, também, a visão do cliente final. Dito isso, sempre fiquei matutando sobre a razão do meu desconforto diante das pesquisas políticas – incomodava-me o conflito interno, tipo “crer ou não crer, eis a eleição”.
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Talvez tenha, hoje, uma resposta para o paradoxo: não costumamos ler as letras miúdas dos contratos. Diante das gritantes percentagens, dos coloridos gráficos em forma de pizza ou colunas, esquecemos da informação crucial – o tempo. Às 9h, por mais que se pretenda ver a sombra do sol da tarde, é a sombra da manhã que se desenha. Este desenho servirá para as peças se moverem em busca de alterar, exatamente, a sombra do sol da tarde. Ou seja: a quem interessa as pesquisas não é ao eleitor, mas aos partidos e candidatos.
É como se, sei lá, a imprensa noticiasse a pesquisa de preferência das cores das balas de goma para as crianças. Para quem tem valor tal informação? Aos fabricantes de balas de goma, é claro. De posse de tais números, alterariam seus produtos, fariam campanhas publicitárias, trocariam embalagens. A bala em si sofreria poucas transformações, até. O importante é chamar a atenção com eficácia. Mas, aí vem a pulga atrás da orelha: uma vez nas manchetes, será que o resultado da pesquisa não viria a aumentar o interesse pelas cores bem cotadas? Se tantos preferem, não será melhor? Não é essa a estratégia das divulgações de ranking, porém a posteriori – tipo, tal carro foi o mais vendido na categoria?
Por que as pesquisas de boca de urna costumam ser bem mais confiáveis? Porque estão ao sol da tarde perguntando sobre a sombra do sol da tarde, e ninguém mais consegue se mover a ponto de alterar seu contorno – nem candidatos, nem eleitores. Pesquisas demais, antecipadas demais, servem a outro senhor, não ao público. Tendem a perder credibilidade porque existem exatamente para que se possa alterar seu resultado. Ou, em teorias conspiratórias, para fabricar resultados – não esqueço que fui publicitário. Do “lado de cá”, acho mais prudente olhar para as propostas, para a história e para as coligações partidárias.