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Uma contramão lava a outra

“Vizinhos são nossos parentes mais próximos.” – Ditado popular

Repararam que a taxa de natalidade em nosso estado se assemelha aos índices de primeiro mundo? Significa que as famílias estão menores em média e, cada vez mais, teremos menos irmãos, primos e sobrinhos. Minguam os laços consanguíneos. Estes dados, quando somados ao fato de que a mobilidade entre cidades, países e continentes separa pais de filhos e distancia irmãos, aponta para uma conjectura de solidão logo ali na esquina. Longevidade já não é só promessa de vida longa, é também de vida longe.

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Tais premissas, quando aceitas, reforçam o necessário e urgente resgate de um ditado antigo, talvez amparado na imagem judaico-cristã de irmandade: serem os vizinhos os parentes mais próximos. A eles, tão estranhos a nós quanto nós a eles, precisaremos recorrer em auxílio; com eles contar em solidariedade; por eles dividir em necessidade. Enquanto brotam feito cogumelos na umidade divergências incontornáveis nas redes sociais, num plano mais elevado – e na vida real – o caminho precisará ser o exato oposto. E vejo bons exemplos disso.

Por contingências de trabalho, conheci nesses dias um coliving. Chama-se Pueblo 595. Belíssimo prédio, sem sombra de dúvidas. Porém, o que mais encanta é o conceito de habitar, simultaneamente, espaços privados e coletivos para, em função disso, experimentar entre vizinhos uma convivência mais próxima. Repartir direitos e deveres parecidos com um lar ampliado, no qual há garantia de recolhimento e intimidade, mas, necessariamente, existe também a chance de trocas constantes – muito além do protocolar bom dia nos elevadores.

O bacana é ser, em alguma medida, uma opção tão próxima do apart hotel e, em outra, uma proposta tão díspar. O habitante se assemelha: pessoas solteiras (ou divorciadas, viúvas, morando na cidade por tempo determinado) e casais sem filhos, todos com uma renda confortável. Escolhe o coliving, no entanto, quem aposta no calor humano como antídoto para as neuroses da cidade grande. Quem compreende a convivência como uma oportunidade de enriquecimento pessoal.

Pensando bem, não, não creio ter sido por contingências de trabalho que conheci o Pueblo 595. Foi por comungar valores, por acreditar em consensos, por apostar na humanidade apesar do redemoinho que parece querer nos afundar. Breno, Marcelo e Jussara (aqui representando os moradores e os cronistas), é adorável descobrir que uma contramão lava a outra, né? Obrigado pela oportunidade que se transformará em livro.

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