Foi fraco ou poderia ter sido melhor, se não estivesse falando para seu público, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, na última terça-feira. Oitavo presidente da República do Brasil a falar nas Nações Unidas, Bolsonaro inverteu as bolas e ao invés de falar para o mundo, resolveu falar para seu público cativo. Por isso, retornar às queimadas na Amazônia, à ideologia de gênero, aos governos que o antecederam, aos médicos cubanos – e aí cometeu erros graves – repetindo os mesmos refrões que o acompanham desde a campanha, não deixando nem mesmo de falar que foi vítima de um atentado praticado por “esquerdista”, quando todo mundo sabe que Adélio Bispo é um fanático tomado por um surto psicótico.
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Mas o eixo principal do discurso de Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU, que sempre começa com o discurso de um brasileiro, foi a defesa da Amazônia e da soberania brasileira sobre esse território que é dividido por nove países. Nesse ponto, o presidente brasileiro foi mais enfático, embora cometesse outro erro ao dizer que o território Yamamoni com mais de 96 km² é ocupado por apenas 15 mil índios quando de fato a reserva tem hoje quase o dobro dessa população. Mas o problema do discurso de Bolsonaro não estava apenas na forma, mas também no conteúdo. Na forma, ao manter a agressividade que o acompanha desde a campanha e sem a qual ele parece não sobreviver. No conteúdo, ao se apegar a questões pontuais e se perder numa vasta digressão que o impediu, por exemplo, de dizer qual é a política externa de seu governo – a não ser a criação de vários conflitos com outros chefes de estado, o mais emblemático deles o com o francês Emmanuel Macron, em que o brasileiro partiu para o ataque pessoal a ponto de ofender a primeira-dama francesa.
É evidente que os bolsonaristas de modo geral gostaram do desempenho de seu presidente, sobretudo na forma, já que Bolsonaro parece não conseguir viver fora do ambiente do embate político, ainda que vez por outra ele escorregue para o lado pessoal – o caso Macron foi exemplar nesse sentido – daí porque se perguntar se não teria sido melhor para a imagem do Brasil no mundo que Bolsonaro fosse afirmativo, sim, porém, mais diplomático, menos agressivo, até mesmo no trato da questão amazônica. Em suma, para os seguidores de Bolsonaro, sua participação foi ótima. Para o resto do mundo, não. Poderia ter sido melhor.