Nunca estivemos tão perto da morte como estamos hoje. A vida desaparece em segundos numa praia de areia preta como a massa vulcânica escorrendo ao lado de um mar de várias cores, como o paraíso do Havaí, como se o próprio planeta estivesse de luto mesmo vertendo vida em forma de lava. É como se o planeta dissesse ao universo que a vida continua, mesmo que esteja ferido em lágrimas incandescentes.
Senti o poder da criação no rosto desfigurado do meu irmão Neto, como num quadro de Munch. O grito contido no peito por um irmão que era seu filho. Senti sua dor, como se nós dois fôssemos um só, em sangue fervendo em veias diferentes, em corpos diferentes, mas para um mesmo coração.
Richard partiu, simples como nasceu e viveu, como uma criança não crescida, que nos últimos dias teve o carinho de sempre do irmão famoso, que não lhe negou o maior e o menor dos desejos – que no fundo mesmo era só ficar perto dele, acariciar seu cabelo, aliviar sua dor, passear de fusca, unir a família, somente ser feliz.
Richard partiu como partem os humildes seres completos que nos fazem tanta falta, rasgam nossa dor que insiste em ficar em forma de saudades.
Chorei distante as mesmas lágrimas de um irmão, que é meu ídolo e referência, como um craque de sentimentos que faz a mágica dos seus pés de gênio ser superada pelo gol de bicicleta que representa sua generosidade – e que é maior do que o seu melhor gol de placa. Richard partiu, mas ficou em cada célula do craque Neto, mais humano que o mito que fez história, mais amigo, mais pai, mais irmão do irmão que dormiu no firmamento