Gosto de morar em São Paulo, mas faz uns anos que tenho priorizado, sempre que possível, fugir da cidade nos finais de semana e nas férias e ficar mais próxima da natureza. Adoro contemplar o mar, as montanhas, caminhar na areia, andar entre as árvores. Me acalma, renova as energias e me deixa mais feliz.
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E recentemente descobri que a ciência comprovou que o mergulho na natureza tem propriedades terapêuticas. Os japoneses já sabem disso faz tempo, tanto que o termo shinrin-yoku (banho de floresta), foi criado em 1982 pelo diretor-geral do Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão, Tomohide Akiyama.
Diante dos crescentes níveis de estresse apresentados pela população na época, o governo japonês decidiu incentivar pesquisas científicas sobre os possíveis benefícios do contato com as florestas para a saúde. E estudos consistentes reconheceram a importância dessa prática como medicina preventiva, uma vez que foi registrado aumento do bem-estar mental, melhora do sistema imunológico e redução do estresse, da frequência cardíaca e da pressão sanguínea.
Nos anos 1990, o professor Yoshifumi Miyazaki, da Universidade de Chiba (Japão), o médico Qing Li, da Nippon Medical School de Tóquio, e outros pesquisadores passaram a estudar e publicar uma série de pesquisas científicas com resultados animadores sobre os benefícios do banho de floresta.
Miyasaki propôs a adoção do termo “terapia da floresta” para descrever o shinrin-yoku baseado nas evidências científicas. Suas pesquisas mediram os benefícios da terapia e revelaram que, depois de apenas 15 minutos de contato com a natureza, já havia aumento nas células de defesa conhecidas por combater tumores e infecções, maior relaxamento, redução do estresse e da pressão sanguínea e sensação de bem-estar.
Tais benefícios são resultado da combinação do ambiente tranquilo da natureza, da atividade física por conta da caminhada e do contato com as árvores. As pesquisas mostraram também a influência dos fitocidas, substâncias produzidas pelas árvores, na melhora do sistema imunológico. Esses óleos essenciais atuam como um tipo de defesa para as árvores e exalam aromas.
Segundo os estudos, à medida que caminhamos nas florestas, inalamos essas substâncias, que relaxam nosso cérebro, elevam nosso humor e ativam o sistema de defesa. Ficou provado que a ação dos fitocidas no organismo humano provoca o aumento da produção de proteínas anticâncer no sangue e de anticorpos NKC (natural killers cells, ou células assassinas naturais).
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Um desses estudos constatou aumento de 44% nas células NKC com apenas dois dias da terapia e o resultado perdurou nos participantes por 30 dias após o contato com a floresta. O aumento da energia e da disposição também foram reportados de forma consistente pelos participantes.
Além dos efeitos físicos, foram identificados também benefícios psicológicos. As pessoas se tornaram mais calmas, reflexivas, recuperaram a memória e aumentaram a capacidade de concentração. Houve ainda redução da ansiedade e da depressão.
Em 2012, o médico Qing Li e outros pesquisadores fundaram uma nova disciplina chamada “silvoterapia” (medicina florestal), uma ciência interdisciplinar que se enquadra nas categorias de medicina alternativa, ambiental e preventiva e que cobre os efeitos dos ambientes florestais na saúde humana.
Experiência de bem-estar
A escritora inglesa Beth Kempton, que viveu décadas no Japão e é expert em artes tradicionais japonesas, descreve sua experiência com o shinrin-yoku em seu livro Wabi Sabi (Editora Best Seller). A terapia da floresta foi conduzida por um dos centenas de guias certificados que trabalham oficialmente em várias regiões do Japão.
“A sessão começou lavando as mãos em um riacho, sentindo a temperatura fria da água e ouvindo o ruído que ela produz ao cair em uma pequena cachoeira. Uma trilha nos levou à base de um canal que oferecia uma vista de 180 graus para campos e montanhas distantes. (…) No primeiro exercício silencioso, cada membro do grupo escolheu uma direção para olhar, primeiro, para uma maior distância, depois, para a média, depois, bem perto, e observar como a mesma vista mudava, dependendo de onde focávamos a nossa atenção.”
Beth conta que, em outras sessões de terapia da floresta você pode ouvir o som de flauta, descansar em uma rede para absorver as propriedades terapêuticas das árvores, meditar ou andar descalço para para sentir as diferentes superfícies na sola dos pés. Depende do local, do guia e da estação do ano.
Em entrevista à escritora, o professor Yoshifumi Miyasaki afirmou que “não são apenas as florestas que podem ter efeitos benéficos sobre o nosso bem-estar. Outros estímulos naturais, como parques, flores, plantas e até pedaços de madeira comprovadamente reduziram o estresse, fazendo com que esses benefícios estejam ao alcance de todos, até daqueles que moram em cidades, como nós.”
Em seu livro, Beth dá dicas para o “banho de floresta”. Veja algumas a seguir.
- Ande devagar.
- Esteja presente. Guarde o celular no modo silencioso.
- Fique um tempo em silêncio, especialmente se estiver em grupo.
- Use todos os sentidos para observar o ambiente. Sinta chão debaixo dos pés, o cheiro do ar, a brisa no rosto.
- Olhe para cima, para baixo e ao redor.
- Observe o céu, as nuvens, a luz e as sombras.
- Respire fundo e sinta o cheiro das plantas, das flores.
- Fique atento aos sons da natureza: do caminhar sobre as folhas ou pedras, da vegetação, dos insetos ou pássaros.
- Use o tato: toque as árvores, as folhas, os galhos.
- Pare e contemple a natureza. Vale meditar, se alongar ou apenas se sentar encostado em uma árvore.
Na prática, não precisamos estar em uma trilha oficial com guia certificado para usufruir das propriedades terapêuticas das árvores. Temos infinitas possibilidades de adaptar os princípios da terapia da floresta e usá-los de modo mais amplo, caminhando ao ar livre em locais arborizados, parques e praças ou simplesmente contemplando a natureza em silêncio.
Para saber mais:
Pesquisas
- The physiological effects of Shinrin-yoku (taking in the forest atmosphere or forest bathing): evidence from field experiments in 24 forests across Japan. (Pubmed)
- Trends in research related to “Shinrin-yoku” (taking in the forest atmosphere or forest bathing) in Japan. (NCBI)
- Physiological Effects of Nature Therapy: A Review of the Research in Japan. (NCBI)
- Effect of phytoncide from trees on human natural killer cell function. (Pubmed)
- Phytoncides (wood essential oils) induce human natural killer cell activity. (Pubmed)
Livros
- Shinrin Yoku: The Japanese Art of Fortest Bathing, de Yoshifumi Miyasaki. (Amazon)
- Wabi Sabi, de Beth Kempton, pág. 95-102. (Amazon)
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