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Roberto Carlos celebra 75 anos e mostra que obra vai além das músicas românticas

Fazia frio em Londres. Muito frio. O clima era ainda pior para quem vivia o exílio provocado pelo regime militar no final dos anos 60 e início dos 70, como era o caso de Caetano Veloso. O baiano estava nervoso por receber Roberto Carlos em seu apartamento.

Ele cantou uma canção nova: “Nas Curvas da Estrada de Santos”. Caetano chorou copiosamente. A visita foi guardada em segredo até alguns anos atrás. Num show, Caetano detalhou o encontro, impensável para quem sempre achou Roberto um “alienado”.

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Criticado pela repetição  do repertório de seus shows anuais, Roberto construiu uma trajetória musical e pessoal muito distante de sua imagem. Ele chega aos 75 anos, nesta terça, 19, como o maior cantor romântico da música brasileira. Mas suas fontes de inspiração e sua obra vão muito além disso.

Ele cresceu ouvindo Bob Nelson, cantor country brasileiro. Tornou-se vocalista do Sputniks, grupo de Tim Maia, que tinha também Erasmo Carlos em sua formação original. Fez sucesso pelas mãos de Carlos Imperial, também nascido em Cachoeiro de Itapemirim (ES). Virou o “Elvis brasileiro”, como era anunciado por Imperial, e comandou o iê-iê-iê em jovens tardes de domingo na TV.

Quando se consolidou como cantor romântico, abriu espaço para músicas religiosas. E mesmo sua veia romântica variou desde os versos mais puritanos de “Eu Te Amo” até as quase sexualmente explícitas “Cavalgada” ou  “Côncavo e Convexo”. No meio disso tudo, clássicos arrebatadores, como “Detalhes”. E escorregões irrecuperáveis como a sua inacreditável série sobre mulheres gordinhas, baixinhas e quarentonas.

Nada contra as mulheres com essas características, mas os versos são lamentáveis. Ainda mais lamentável é o fato de Roberto não autorizar a publicação dos relatos sobre sua vida. Porque seus amigos falam de uma pessoa agradável, com algumas manias, mas, principalmente, tão generosa quanto discreta. Essa generosidade aliada à discrição o levou a manter sob sigilo a inspiração para

“Debaixo dos Caracóis de Seus Cabelos”. Os versos começaram a surgir naquele encontro em Londres. Foi a maneira de Roberto cantar como seria o retorno de Caetano para a Bahia quando o exílio terminasse (a letra ganha outro significado quando lida sob essa ótica).

O artista volta hoje para sua terra, em show em Cachoeiro de Itapemirim. Um retorno marcante. Ainda mais quando esse encontro ocorre entre a terra e alguém que — como definiu Caetano — conseguiu, por sua história e obra, o incontestável título de Rei.

 

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