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O Animal Cordial, nos cinemas nesta quinta, é terror que explora medos tipicamente brasileiros

Josué Souza/Divulgação

Um bom filme de terror é aquele capaz de manipular os medos do espectador a favor de sua narrativa. Em seu primeiro longa-metragem, a diretora Gabriela Amaral Almeida faz isso com desenvoltura ao explorar tensões e temores tipicamente brasileiros.

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“O Animal Cordial”, que estreia nesta quinta-feira (9), parte de uma premissa bastante factível no atual contexto do país.

Um restaurante é assaltado em fim de expediente, mas, escaldado por um episódio anterior, o dono do lugar, Inácio, (Murilo Benício) está armado e reverte a situação.

Em vez de chamar uma polícia que julga ineficiente, ele se alia à garçonete Sara (Luciana Paes) e faz justiça com as próprias mãos, provocando um banho de sangue que reflete fraturas sociais sobre as quais pouco se fala no Brasil.

“A Sara tem necessidade de afeto, de ascensão e de se tornar algoz – porque nós temos essa mácula de, ao acessar o poder, querermos subjugar o outro como nós fomos subjugados. Já o Inácio é refém de uma masculinidade opressora”, explica Gabriela, que tem o cinema giallo italiano como sua grande referência.

“Eles tinham pouco orçamento. Quando você tem essa limitação, precisa contar com a criatividade na composição de quadro, na trucagem, na montagem… Eu me diverti ao pensar em como fugir do bom gosto no acabamento desse filme”, diz a cineasta.

Gabriela não tem pudores no uso de sangue e de cenas de assassinato e sexo – que deram ao filme a classificação indicativa de 18 anos –, mas tudo ali tem propósito.

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“O clímax da facada ou do tiro não é o principal. O que está explícito esconde algo implícito: os desejos internos desses personagens, que têm a ver com racismo, homofobia, classismo”, diz ela, numa defesa da importância da arte para comentar a realidade.

“O Inácio acha que tem um restaurante muito chique, mas ele é mal localizado e tem ambiente falso. E a gente é isso enquanto país. A gente finge que tá bem, mas tá na beira do abismo. Precisamos ver essas rachaduras e não emular um cinema aprovado por europeu ou americano.”

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