A história do rock não hesita em atestar Freddie Mercury (1946-1991) como uma de suas maiores figuras. Dono de uma energia catártica em palco e capaz de alcançar notas dificílimas aparentemente sem esforço, o vocalista do Queen se consolidou como um performer singular que partiu cedo demais. Impressiona, portanto, que só agora chegue aos cinemas um filme retratando sua vida.
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“Bohemian Rhapsody” chega com a proposta de revelar o processo de transformação do filho de imigrantes Farrokh Bulsara no astro Freddie Mercury. O resultado é um drama clássico de vida de roqueiro, mas com um enfoque bem mais voltado para a família do que o esperado.
Afastado pouco antes do encerramento das filmagens, o diretor Bryan Singer (“X-Men”) optou por enaltecer a extravagância do protagonista, mas com um olhar um tanto puritano.
Apesar de serem parte importante da biografia de Mercury, o sexo e as drogas surgem apenas de forma insinuada, como uma compensação para o profundo estado de solidão no qual ele se via.
Há um esforço para reafirmar os demais integrantes do Queen e sua amiga e ex-noiva Mary Austin (Lucy Boynton) como a família que o aceita como é, diferentemente de seus pais conservadores, e a docilidade dessa abordagem gera ruído em relação à contestação própria do rock and roll.
Os fãs do Queen precisam dar um desconto para a cronologia do filme, alterada de forma sensível para fins dramatúrgicos, mas é possível se divertir com a reencenação das loucuras que possibilitaram a criação de hits tão distintos quanto “Bohemian Rhapsody” e “We Will Rock You” até o antológico show da banda no Live Aid, em 1985.
Uma das cenas lembra, inclusive, a passagem do quarteto pelo Brasil, quando o público carioca surpreendeu Mercury com um coro emocionante para “Love of My Life”.
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Responsável por encarnar o protagonista, Rami Malek (“Mr. Robot”) faz um trabalho exemplar. Ele não é nada parecido com o biografado, mas incorpora tão bem seus trejeitos e sua forma única de cantar que o público enxerga facilmente o astro do rock à sua frente, provando a força da interpretação do ator.
“Estou muito contente com o que fizemos. Foi realmente a experiência da minha vida. Posso afirmar sem dúvidas: nunca farei algo assim novamente. E isso será algo que guardarei como meu tesouro enquanto caminhar por esta Terra”, afirmou Malek, já cotado para receber o Oscar.
Veja o trailer: