Dieguito Reis descreve seu gosto musical como o de um «porra louca, que escuta de tudo um pouco». Baterista da Vivendo do Ócio, o artista se aventurou em um projeto solo com o EP Patcharas, lançado em setembro deste ano, e que mistura elementos do rap, hip hop e música brasileira.
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Nesta sexta-feira (30), o Metro Jornal traz o lançamento exclusivo do clipe de Parando Pra Pensar, o terceiro do novo trabalho do músico do bairro do Uruguai, em Salvador (BA). «Eu fiz essa faixa enquanto estava ouvindo uma rádio de beats lo-fi (gravações caseiras), que tem virado tendência na internet», conta.
No clipe, sem cortes, Dieguito aparece em um ambiente de trabalho cercado de música, com discos de vinil e equipamentos de gravação. Sozinho, o artista reflete e descarrega seus pensamentos em uma folha de papel, ao lado do computador que transmite uma animação de uma mulher que escreve em um caderno enquanto escuta algo em um fone de ouvido. A direção é de Marcos Carreri. Assista:
«O som é instrumental, e a ideia é transmitir o que as rádios lo-fi passam, isso de você ouvir a música enquanto faz outras coisas», explica. Mesmo sem nenhuma palavra cantada, as frases escritas por Dieguito ganharão espaço em uma futura versão de Parando Pra Pensar, que deve ser lançada no ano que vem.
«No início eu ia escrever qualquer parada, mas vi que ficava meio forçado. Então eu entrei na onda de compor pra valer, e com certeza o que escrevi ali vai ser aproveitado», explicou. O conteúdo da folha, porém, vai ficar em segredo – pelo menos por enquanto.
Ouça a rádio lo-fi que foi inspiração para a música Parando Pra Pensar:
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‘Vem de zap, bb’
A primeira vez que os fãs ouviram algo do trabalho solo de Dieguito Reis foi com a canção Favela Sincera. Ele fez uma publicação em seu Facebook pedindo o telefone daqueles que quisessem conhecer a música. «Mandei mensagem do meu telefone pessoal mesmo, o mesmo que eu uso pra falar com meu pai», disse.
O artista acredita ter adicionado números de cerca de duas mil pessoas, que receberam o single pelo aplicativo WhatsApp. «A recepção acabou sendo muito boa, foram tantas mensagens que eu demorava uma semana para conseguir responder!»
A exposição ousada partiu de tentar fugir das redes sociais convencionais. «O algoritmo, que escolhe o que a pessoa vai ver, está acabando com muita banda, o som não chega onde tem que chegar. Eu explorei o WhatsApp porque é a única rede que não tem algoritmo, você manda mensagem direto para o fã.»
Dessa abertura criaram-se novos laços. «Eu passei a conversar muito com o público, recebi até ligações de pessoas que estavam com pensamentos ruins e sentiram vontade de falar comigo. No final, acabou que eu também acabava indo atrás deles quando estava afim de conversar».
Ouça Favela Sincera, primeira música do projeto solo de Dieguito Reis:
Sozinho, mas bem acompanhado
Foi ainda em 2011, durante a produção do segundo disco da Vivendo do Ócio, O Pensamento é Um Imã, que Dieguito Reis foi começando a explorar seu lado de compositor. «Eu comecei a me interessar cada vez mais em escrever e foram saindo músicas que não dialogavam nem com a banda, nem com outros projetos que eu participo», afirmou.
Surgiu então a ideia de fazer um trabalho que ele «comanda, dita as regras». Daí o significado do termo «patchara», que não a toa virou plural no título do álbum – das seis canções que compõem o EP, cinco tem participações especiais.
«Essa galera fez acontecer junto comigo. É um disco solo, mas com um monte de gente que se reuniu para dar um disco de presente para um cara. E esse cara sou eu!», brincou. O álbum tem produção de Peu Del Rey e Del Jay. Ouça:
Nada como a mídia física
É comum para muita gente o pensamento de que a internet e os serviços de streaming, como Spotify e YouTube, democratizaram o acesso à música. «As pessoas sempre perguntam sobre o que vale fazer ou não, mas depende muito do nicho», afirmou Dieguito Reis.
O músico pretende lançar o EP Patcharas em CD no ano que vem, porque acredita que é uma forma de atingir mais pessoas. «Meu pai, que é feirante em Salvador, vive me cobrando um disco físico. Por lá, os amigos dele não sabem o que é o Spotify. Eu cheguei onde queria chegar no digital, agora quero ir além.»
Com pequenas apresentações e participações especiais neste semestre, Dieguito Reis prepara uma banda para começar a excursar oficialmente o projeto em 2019. «Vou começar por Salvador. As músicas vieram porque eu estava me sentindo distante da minha terra. Eu moro em São Paulo há nove anos, e esse EP foi uma forma de eu me reconectar a cidade.»
Ouça Aqui Não é Montevidéu, segundo single de Dieguito Reis: