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‘Me senti o marido traído’, diz Gabriel Thomaz sobre tributo aos 20 anos de Autoramas

Em entrevista ao Metro Jornal, o líder de uma das principais bandas de rock independente do Brasil fala sobre a coletânea surpresa que reuniu 41 artistas e faz balanço sobre o vigésimo ano do Autoramas

Da esq. para dir.: Érika Martins, Fábio Lima, Gabriel Thomaz e Jairo Fajer Paulo Aguiar/Divulgação

Quando conversei com Gabriel Thomaz, vocalista e guitarrista do Autoramas, no dia 19 de dezembro, minha primeira pergunta foi inocente:

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– Já entrou no recesso de fim de ano?

– Que nada cara, eu não paro de trabalhar. Semana passada eu até caí na cama de doente.

O ano em que a banda completou 20 anos de carreira foi típico de sua alcunha de «nada pode parar os Autoramas». Uma turnê internacional, muitos shows no Brasil, um disco novo e, para fechar, uma grande homenagem em forma de álbum tributo – tema principal de nossa conversa.

Capa do tributo «A 300 KM Por Hora»

«A 300 KM Por Hora» é uma coletânea que envolveu 41 bandas e conta com versões para músicas de toda a carreira do grupo. O projeto foi uma grande surpresa para Thomaz, que descobriu o trabalho quando ele estava praticamente fechado – a produção foi mantida em segredo por 19 meses. «O tributo foi algo que me impressionou porque ninguém me falou nada. Me senti o marido traído», brincou.

Entre os artistas que reproduzem – a sua maneira – as canções do Autoramas estão China, Nevilton, Camarones Orquestra Guitarrística, Marcelo Callado, Carbona e muitos outros. Chama a atenção, principalmente, a forma com que cada faixa é tratada – enquanto alguns foram fiéis à estrutura original das letras e melodias, outros as reconstruíram quase que por completo. «Eu, quando gosto de fazer versões, gosto de mudar tudo, trazer tudo para o nosso estilo. No tributo tem versões maravilhosas, de bandas até muito melhores que nós.»

Depois do lançamento, o líder e único membro remanescente da formação original disse que foi cobrado por músicos amigos: «Tem outras bandas que não entraram na coletânea e que depois vieram reclamar porque ‘poxa, você não me chamou’. Mas nem fui eu que fiz, eu fui o último a saber!» O tributo foi organizado por Rafael Chioccarello (do blog Hits Perdidos) e Débora Cassolatto (do Debbie Records, programa da Mutante Radio), e lançado pelo selo Aurora Discos.

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Mau exemplo

Nem o troféu do Prêmio Gabriel Thomaz escapa do clima de «faça você mesmo»

Três dias depois da audição da coletânea, o músico realizou a sexta edição – sendo a terceira com cerimônia – do Prêmio Gabriel Thomaz, que integrou a programação da edição 2018 da SIM São Paulo (Semana Internacional de Música de São Paulo). «A gente consegue falar de bandas que ninguém fala, de premiar bandas que merecem, mas que ninguém premiou», explicou.

Abrir espaço para outros artistas é algo que esteve presente na carreira de Thomaz desde seu início, no fim da década de 1980 – em 2016, ele lançou o livro «Magnéticos 90», que conta uma história ilustrada por Daniel Juca sobre a geração do rock brasileiro lançada em fita cassete. «Eu gosto de ouvir todas as bandas que chegam pra mim. Fico curioso em saber o que a galera está fazendo.»

Mas mesmo com 20 anos de banda e um grande trabalho de descobrir e valorizar artistas independentes, Gabriel Thomaz abusa da humildade e bom humor ao deixar claro que não se considera um símbolo do rock brasileiro. «O prêmio só tem meu nome porque eu que organizo! [risada] Mas eu não sou exemplo para ninguém, talvez eu seja até um mau exemplo.»

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O 2018 agitado do Autoramas também contou com o lançamento do sétimo álbum de estúdio, Libido, lançado em julho. «Tivemos que disputar espaço com muitas outras coisas, foi um ano de Copa do Mundo e eleições, as pessoas só falavam disso. Mesmo assim, esse é um dos nossos melhores trabalhos.»

Assista ao clipe de Creepy Echo, do álbum Libido:

No futuro

Se 2018 foi um ano agitado para o Autoramas, nada sugere que 2019 será mais tranquilo. O «eu não paro de trabalhar» de Thomaz no início de nossa conversa, inclusive, se referia aos acertos que fazia para a 16ª turnê na Europa, em maio. «A gente já fez 47 viagens internacionais, para 23 países. Temos uma base de fãs muito fiel, a galera compra muito nossos discos lá fora. Para nós é um grande privilégio, muita gente sonha em ter uma carreira internacional.»

Neste momento, não pude deixar de fazer uma comparação com a Anitta, grande nome do pop brasileiro e que especialmente neste ano trabalhou para consolidar seu nome fora do Brasil. «Eu nunca ouvi Anitta na minha vida, meu mundo é outro. O Brasil é um supermercado musical, tem de tudo, mas muitas vezes só o açougue que tem vitrine. Mas você pode consumir de tudo!»

Antes de embarcar Brasil afora novamente, o Autoramas participa pela primeira vez do festival Lollapalooza, no dia 5 de abril. Quando foram revelados no line up, claro, não faltaram piadas sobre finalmente tocar no Autódromo de Interlagos. «A coisa mais forte que a gente tem é o show. Vamos chegar lá para arrebentar.»

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