“Eu era melodia, hoje eu sou silêncio”. É assim que o Rio Doce se autodescreve no livro “Um dia, um rio”, lançado em outubro de 2016. A trama infantil se inspirou no rompimento da barragem de Mariana-MG, em 2015, para narrar os danos ocasionados às vidas humanas e ao meio ambiente naquela ocasião. Com o novo desastre, ocorrido na última sexta, agora em Brumadinho (MG), a trama idealizada pelo escritor Leo Cunha ganha ainda mais emoção.
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O livro apresenta o Rio Doce como um menino de pele e roupas azuladas que passa por diversas comunidades contribuindo com a vida de quem vive ali. Com o rompimento da barragem, porém, as ilustrações de André Neves ganham um tom sombrio e quase assustador. Os peixes que antes eram mostrados alegremente se tornam esqueletos. Das crianças que brincavam, restam apenas as bonecas.
“O livro permite vários níveis de leitura, mas mesmo com a temática forte, eu consegui trabalhar ele em dezenas de escolas e com crianças de todas as idades. Tudo depende, claro, de uma contextualização e da forma que a obra vai ser apresentada, mas acho que a arte não tem que ser só para a leveza. É um tema que me emociona, sempre que eu leio o livro eu
choro”, diz o autor.
Impacto universal
A obra foi lançada em 2016, por ocasião do primeiro aniversário da tragédia de Mariana, e desde então tem sido apresentada pelo autor em escolas de todo o país. O que mais impressionou Cunha nesta jornada foi a universalidade do tema. “Embora a inspiração no caso do Rio Doce seja evidente, em todo lugar as pessoas me dizem que pareço estar falando do rio da cidade delas. Essa universalidade inesperada é um reflexo do desrespeito que vemos pelos lagos, rios e praias no Brasil, não só com esses grandes ataques, como também com os pequenos crimes da população em geral”, afirma.
“Um dia, um rio” entretanto, apresenta também uma mensagem de esperança. “Flores nascem no deserto, a água brota na rocha e a luz na escuridão. Serei um rio um dia”, conclui o Rio Doce. “Nos últimos 20 anos já deixamos alguns vícios do passado, estamos aprendendo. Que este aprendizado venha com fiscalização e cobrança das empresas”, avalia o autor Leo Cunha.
O livro foi finalista do Prêmio Jabuti em 2017 na categoria livro infantil. A obra tem 32 páginas e está à venda no site da editora Pulo do Gato.
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