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‘É difícil não tocar em questões sociais e raciais’, diz Rashid; rapper é destaque nacional no Lollapalooza

Kleber Oliveira/Divulgação

Um dos nomes expoentes do rap nacional, o paulistano Rashid se apresenta neste sábado (6) no Lollapalooza Brasil. Seu último álbum «Crise», lançado no ano passado, já soma mais de 60,5 milhões de stream só no Spotify – boa parte graças a música «Bilhete 2.0», parceria com o carioca Luccas Carlos.

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Rashid é o nome artístico de Michel Dias Costa e quer dizer «justo», «verdadeiro» e «guiado corretamente». «Eu acho que o significado tem muito a ver com o que eu falo na minha música, sabe? E é africano também, bastante comum por lá», afirma.

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Michel nasceu em São Paulo, mas passou a adolescência em Ijaci, cidade do interior de Minas Gerais. Foi só em 2006 que voltou para a capital paulista – e, a partir desse momento, passou a frequentar batalhas de freestyle e iniciar a sua jornada pelo mundo da música.

«Quando eu paro para olhar as coisas que eu vivi lá atrás e que vivo agora, é uma diferença monstruosa. É incrível, na real, tá ligado?», comenta.

Esta não é a primeira vez do rapper no festival: no ano passado, participou do show da banda de indie pop Plutão Já Foi Planeta. Agora, com um horário solo, Rashid convida Luccas Carlos, para juntos cantarem «Bilhete 2.0». «É a minha principal música nesse momento e é com ele, né. Também é a principal música no show solo dele», diz.

O Metro Jornal conversou com o rapper sobre as expectativas para o Lollapalooza, o cenário do rap e outras novidades.

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Confira a entrevista completa:

Qual sua expectativa para o Lollapalooza?

A expectativa sempre fica em alta para um festival. Acho que essa é uma das maiores paradas que eu estou participando – se não for a maior. Eu tenho uma grande expectativa em relação ao contexto do geral, do que vai rolar por lá. E em relação ao meu show, obviamente a expectativa é que seja o melhor show possível. Mas eu acho que é como um jogador que vai jogar uma final de campeonato: você tem que colocar a expectativa no chão um pouco e fazer seu melhor, deixar que os outros tenham essa expectativa por você.

O Lollapalooza é um ambiente que, querendo ou não, é um pouco elitista. Como você se sente em relação a isso?

Pô, eu me sinto normal. Eu acho acho que isso não tira a legitimidade do que a gente faz, nem em nada do que a gente cantou a vida inteira. Eu sou eu do mesmo jeito por onde eu vou. Eu acabei de colar na PerifaCon – um evento de cultura pop totalmente voltado ao público da periferia, da quebrada. O evento foi de graça, fiz sessão de autógrafos, fiz bate papo. Mas sim, acho que dói para as pessoas que muita gente não tem a oportunidade de ir em um festival desse porte, ou então outros acabam se endividando pra estar lá, tá ligado? Mas acho que isso não tira nada de credibilidade e ainda acrescenta profissionalmente.

Você vai se apresentar no mesmo dia em que o Post Malone, um dos rappers que está crescendo no meio pop. Você acha que essa popularização recente do hip hop nos Estados Unidos pode afetar o cenário de rap brasileiro?

Sem dúvidas. Na real, o que acontece lá acaba refletindo aqui. Primeiro porque o rap nasceu nos Estados Unidos e a gente meio que adaptou às nossas verdades – fizemos isso muito bem, temos grandes talentos aqui -, mas muita coisa acaba começando mesmo por lá, para depois espalhar para o resto do mundo. Mas eu acho que a ascensão do rap brasileiro tem muito a ver com essa ascensão do rap no mundo, obviamente. Mas também tem a ver com a grande quantidade de artistas talentosos que foram surgindo, cada um para um tipo de gosto. Tem os caras que fazem um rap mais pesado, outros que fazem um rap mais tranquilão.

Aproveitando a deixa: na sua visão, o rap é um estilo que precisa, necessariamente, ser sempre engajado ou pode ser mainstream?

Não, consegue ser mainstream sim. Na verdade, consegue ser mainstream e engajado, ao mesmo tempo. Acho que o rap tem uma liberdade incrível e agora você consegue ver tantos artistas falando coisas diferentes. Eu mesmo, você ouve a «Bilhete 2.0», que é música romântica, aí cola no show e ouve várias músicas mais pesadas, sabe? O rap tem acompanhado cada vez mais o que seria, simplesmente, a vivência das pessoas. A gente ama e odeia, fica triste e feliz, tudo no mesmo dia.

O rap acaba passando pelas questões sociais e raciais, mas eu não vejo isso como uma obrigação artística – porque se você enxerga assim, abre precedentes para que seja cobrado por isso. O artista não é um político, ele faz aquilo que sente, não vejo isso como uma obrigação.  Ao mesmo tempo, acho difícil uma pessoa que faz uma arte que reflete a vida dela não tocar em nenhum ponto em algum aspecto social. Porque a gente tem vivido isso, a todo o tempo, a todo momento.

Fiquei sabendo que você já está trabalhando em um álbum novo. Quais seus projetos para este ano?

Tem um disco novo, que está vindo no meio do ano, mas ainda não tem data definida. Tem muita coisa legal, é o foco do nosso trampo neste momento. Eu acho que vai ser um disco que vai trazer muitas coisas boas não só para o Rashid, mas para os meus fãs também.

Alguma participação?

Por enquanto, tem duas: Rincon Sapiência e Drik Barbosa. No mais, estou mantendo sigilo absoluto.

O rapper Rashid foi um dos que teve o show cancelado

Como funciona o seu processo criativo? Você espera uma inspiração para fazer uma rima ou senta e diz “ok, agora vou falar sobre determinado assunto”?

Eu enxergo muito como trabalho, mas também é criatividade. Tem vezes que eu escrevo coisas que não vão para lugar nenhum, mas esse é o meu treinamento. Mas também tem aquele momento em que escrevo e vejo algo especial, aí penso «pô, essa música tem alguma coisa nela». Aí você vai em frente, aposta, vai contra tudo e todos porque você está enxergando potencial naquela música. Às vezes você está certo, às vezes não, mas acho que esse é o barato da criatividade! É muito relativo, hoje em dia tudo se baseia em visualizações, mas, às vezes, aquela música que foi menos ouvida do disco vai mexer com alguém de forma especial, mudar a visão de mundo daquela pessoa. Então eu tento ser livre na criatividade, mas eu estou sempre escrevendo. Só se melhora assim, praticando.

Você anota suas ideias?

Sim, anoto tudo. Eu estou cheio de cadernos em casa, anoto tudo e qualquer coisa. Às vezes eu não sei nem o que eu dizer ainda na música, só penso «eu queria uma música com um piano, de tal jeito» e vou lá e anoto isso.

Você chega a voltar em alguma ideia que tinha sido descartada anteriormente?

Sim, às vezes você guarda uma ideia para executar no momento certo. «Não, quero uma música com uma orquestra agora», mas nem sempre quando você pensou isso tem condições financeiras, nem estrutura. Aí chega uma hora que você vai tem.

Sem falar trecho de rima também, eu guardo vários. Às vezes, falta aquele pedacinho pra terminar alguma coisa, ou eu estou lá passando, vendo aqueles trechos, e penso «meu, isso aqui vai encaixar naquela música nova que eu estou fazendo» e levo pra lá.

Tem alguma música recente que você tenha feito isso?

Tem a música «Interior«, uma parceria recente com o Rapadura. A gente começou a fazer em 2016, mas estamos trocando ideia de fazer essa música há anos. Toda vez que a gente se encontrava em bastidores de eventos, a gente falava sobre ela. Aí depois, quando foi pra valer mesmo, tive que mexer, porque eu falava coisas que eu achava que não tinha mais a ver com a temática, que o mundo tinha andado. Então precisava falar outras coisas.

Para encerrar, eu notei que você tem algumas músicas com referências a HQs. Então, nada mais justo que perguntar: DC ou Marvel?

Aí é difícil, aí você quer polemizar! (risos)

Então, eu acho que é uma briga feia, né. Ou uma briga bonita. Depende. Se a gente for pra parte de cinema, a Marvel tem levado uma larga vantagem. Mas se a gente for partir para os quadrinhos, aí complica, porque a DC tem muita coisa que mudou a visão das pessoas sobre heróis. A Marvel também tem heróis incríveis…

Enfim, nos quadrinhos é muito difícil para eu chegar em uma conclusão. No cinema, é Marvel – até o momento, é Marvel na cabeça – mas nos quadrinhos é complicado, a DC tem muita coisa incrível.

Assista ao clipe de «Bilhete 2.0»:

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