O álbum “Transa” (1972), de Caetano Veloso, foi uma marca na carreira do músico. As canções, compostas em inglês durante o exílio do músico em Londres, surpreenderam por conjulgar sonoridades (como o casamento de reggae e samba em “Nine out of Ten”), mas principalmente pelas letras que discutiam a tristeza do exilado de maneira imperceptível pela censura da época.
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Tentar repetir o impacto deste álbum, portanto, já seria uma tarefa difícil tendo o apoio das letras, imagine em um disco instrumental. O saxofonista brasiliense Esdras Nogueira, porém, aceitou o desafio e consegue cumprir com a tarefa de recriar com originalidade o disco.
“É um disco que eu gosto muito. Transa é um álbum que foi composto em um momento político muito forte da ditadura militar, então é um CD que fala muito sobre os dias de hoje”, diz Esdras.
“Transe” é a versão dele para “Transa” – uma mudança de título que vai além de um simples trocadilho. “É bom para todo mundo, estamos todos precisando de transa e transe na atual atual conjuntura e é um disco extremamente atual”, diz Esdras.
O álbum tem as mesmas sete faixas do original, com a mesma duração, mas com arranjos diferentes. “Meu disco é instrumental e todo mundo sabe como as letras de Caetano são incríveis, então foi o processo de um ano de trabalho para conseguir conceber o disco. Não é só tocar a harmonia dos originais, queríamos dar a eles uma forma diferente”, diz.
Curiosamente, nessa nova versão o músico manteve suas preferências em relação ao álbum. “Eu gosto muito de Triste Bahia, tanto no original como no nosso CD. É uma música com jeito de mar, uma hora calma e outra nervosa, uma coisa que a gente vê no jazz também. Há uma faixa que é pouco conhecida, experimental, a Neolithic Man, que eu gosto também”.
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Este é o quarto disco solo de Esdras e o segundo em que se dedica à obra de outro artista – seu álbum de estreia, “Capivara”(2014), trazia versões de Hermeto Pascoal.
Acompanhando o sax barítono de Esdras Nogueira está a guitarra de Marcus Moraes, o baixo de Rodrigo Balduino e a bateria de Thiago Cunha. Eles tocam juntos há 5 anos e esbanjam tanto entrosamento quanto o amadurecimento da estrada.
“Ele não é no original um disco cheio de virtutosismos, na verdade tem uma sonoridade muito experimental, então isso deixou a banda muito à vontade”, completa Esdras Nogueira.