Quando se pensa em um serial killer, é fácil imaginar alguém com olhar solene, risada sinistra e incapaz de demonstrar qualquer remorso. Responsável por matar pelo menos 30 mulheres, Ted Bundy (1946-1989) não apresentava nenhuma dessas características – pelo contrário. Ele era charmoso, falava bem e parecia simpático.
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Isso fez o diretor Joe Berlinger se questionar: como alguém com tanta malvadez dentro de si pode se esconder tão à vista dos outros?
O cineasta decidiu lidar com o universo de Bundy por dois caminhos. O primeiro foi a série documental “Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy”, disponível na Netflix. O segundo é o longa “Ted Bundy – A Irresistível Face do Mal”, que estreia nesta quinta-feira (25).
Os dois filmes falam sobre o assassino, mas a partir de pontos de vista distintos. O documentário apresenta as entrevistas que Bundy deu a dois jornalistas antes de ser executado, em 1989, enquanto o longa revela um olhar mais intimista da relação de Bundy (Zac Efron), com sua namorada de longa data, Elizabeth (Lily Collins).
Berlinger queria se concentrar no fato de Bundy ter sido capaz de enganar tanta gente por tanto tempo. “Para mim, ele desafia todos os estereótipos do que pensamos ser um serial killer. Queremos imaginar um assassino como alguém socialmente desajustado e repulsivo já na aparência, porque nos conforta a ideia de que essas pessoas são facilmente identificáveis – portanto, evitáveis. Acho que Bundy nos ensina o exato oposto. Ele era charmoso e bonito, tinha muitos amigos e as pessoas não conseguiam imaginar que ele fosse capaz de fazer aquelas coisas. Essa é uma lição importante para as pessoas”, diz o diretor.
Com uma experiência de 25 anos filmando histórias baseadas em crimes reais, o diretor é taxativo. “As pessoas que menos esperamos – e em quem às vezes mais confiamos – são capazes das piores maldades”, sentencia. É por causa disso que o ponto de vista do filme é o de Elizabeth. “Eu me interesso por como amigos e colegas do assassino relevam todo tipo de sinal ou pista. Acho que ver o filme sob a ótica de alguém que o amava e confiava nele podemos retratar essa dinâmica”, afirma o diretor.
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O longa também questiona se alguém tão manipulador seria realmente capaz de amar. “O filme não responde se esse era um disfarce de normalidade para ele se livrar dos crimes ou se era uma necessidade psicológica de normalidade. Amor pode significar muita coisa para muitas pessoas.”
A relação entre Bundy e Elizabeth parece quase normal ao longo do filme. Assim como o público, ela nunca vê os atos hediondos que ele comete, levando todos a se questionarem se ele realmente é criminoso. “As atuações o fazem se esquecer de que este se trata de um filme sobre um serial killer. Ao fim, talvez você tenha alguma sensação do que é ser enganado por alguém assim”, conclui Berlinger.