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‘Macumbas e Catimbós’: Alessandra Leão leva o tambor do terreiro ao palco do Auditório Ibirapuera

Bia Varella/Divulgação

O tambor de Alessandra Leão nunca soou tão forte como em “Macumbas e Catimbós”, seu mais recente disco que terá o show de estreia em São Paulo neste sábado (24), no Auditório Ibirapuera.

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Com fortes influências de religiões afro-ameríndias, como Candomblé, Umbanda e Jurema, o álbum traz a vivência nos terreiros da artista. Além das músicas, o registro é acompanhado de um livro em que Alessandra relata sua relação com a religião.

Confira a entrevista!

Seu tambor nunca bateu tão forte como em Macumbas e Catimbós. Como se deu esse protagonismo no álbum?
O tambor tem um protagonismo na minha vida. O ilu (tambor usado nos terreiros de Xangô em Pernambuco) é meu principal instrumento desde que comecei a tocar, há 23 anos. É com ele que componho parte das minhas músicas, que dou aula, que gravo praticamente todos os meus discos. É com o tambor (e não apenas com o ilu), que toco no terreiro, na Umbanda, durante os rituais. Esse disco é um presente que ofereço ao que me é sagrado, e dentro no universo das macumbas, o tambor é uma entidade, é sagrado, é reverenciado. Pedimos licença pra tocar, agradecemos a ele pela música sempre.

E porque o deixou de fora em “Ponto para Preto Velho”?
Quando pensei nesse «Ponto para o Preto Velho» pensei nele como um sussurro, um abraço de avô, de avó. Um acalento, para acalmar e ninar. Por isso a escolha de fazer o arranjo só com voz e a participação maravilhosa de Mateus Aleluia.

Todo o conceito do álbum é carregado pelas influências do Candomblé, Umbanda e Jurema. Ao mesmo tempo, você afirmou que o álbum não é um registro de música religiosa. Qual foi a intenção com o trabalho?
Esse disco não é um registro da música de terreiro no sentido que não tocamos exatamente como se toca dentro dos rituais. É sobre essas religiões, uma celebração, uma homenagem e sobretudo um agradecimento. Mas não é um registro etnográfico. É um disco produzido pensado a partir dessa encruzilhada entre terreiro, estúdio, palco. Arranjado por três músicos – eu, Maurício Badé e Abuhl Júnior – que temos uma relação profunda com o terreiro (de Candombé, Umbanda e Jurema – religiões afro-ameríndias) e que são músicos profissionais há muitos anos. Junto com Caê Rolfsen, que assina a produção do disco comigo, processamos o som dos tambores, das vozes, criamos novas camadas sonoras. Nos demos a liberdade criativa a partir da música do terreiro. Lembrando que essa música transcende desde sempre o espaço do terreiro e é fundamental do desenvolvimento da música brasileira de maneira muito ampla. Nesse sentido que digo que esse não é um disco de música religiosa – mesmo sendo sobre isso. Esse é um disco de música brasileira, lançado em 2019.

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Como tem sido a recepção do seu público? Seus últimos lançamentos tinham uma maior presença da guitarra, por exemplo. Houve um estranhamento nessa mudança de estilo?
Não vejo uma mudança de estilo, tem uma mudança estética do que vinha gravando antes, nos outros discos. Mas essa é a música que sempre faço, assim, percussão e voz. Esse é o tipo de música que mais canto desde sempre, mesmo que tenha gravado antes com formação instrumental distinta, muito do que está no Macumbas e Catimbós, já estava antes. A recepção tem sido muito bonita! Tenho recebido relatos e mensagens de muita gente agradecendo por ter feito esse disco e sobretudo agora, nesses tempos complexos e difíceis que estamos passando. O amor é arma de resistência e de existência. Cantar e celebrar o sagrado – seja ele qual for – cantar e celebrar o amor e o respeito sempre me parece ainda mais urgente agora. A arte cura, nos mantém conectados, acalma, inquieta também, ajuda a pensar melhor, mais criticamente, achar soluções, ajuda a nos reconhecermos e a enfrentar as dificuldades.

O disco foi lançado em maio e agora chega a São Paulo para seu show de lançamento. Qual é a sua relação com a cidade e a importância do palco do Auditório Ibirapuera para você?
Moro em São Paulo há quase seis anos, mas vinha regularmente pra cá há mais de vinte. Tenho uma relação de muito carinho por essa cidade, pelos muitos amigos que tenho aqui, pelo tanto de gente de tantos lugares diferentes do Brasil e do mundo que fizeram e fazem essa cidade ser tão pulsante assim. São Paulo é esse lugar de encontros é essa encruzilhada de possibilidades. O Auditório Ibirapuera é um dos palcos mais importantes dessa cidade, levar esse show pra lá, do jeito que pensamos, com cenário de Juliana Godoy (que também assina direção e roteiro do show junto comigo), com boa parte dos convidados que gravaram no disco, com minha família de santo, do Terreiro Recanto Quiguiriça, Mestre Sapopemba, Isaar, Lívia Mattos, Sthé Araújo, Caê Rolfsen e Manu Maltez, além dos meus companheiros de tambor, Maurício Badé e Bahul Júnior é uma alegria imensa e uma honra e responsabilidade ainda maior em levar esse repertório e celebrar as macumbas e os catimbós dessa maneira.

O show terá apenas o repertório de «Macumbas e Catimbós» ou será um misto com outros trabalhos?
O repertório desse show será o do disco e outras músicas desse mesmo universo. Será uma celebração ao povo de santo, ao estado laico, ao respeito, às energias e entidades que nos guiam individual e coletivamente.

Serviço

Alessandra Leão
em show de lançamento do disco Macumbas e Catimbós

Participações: Maurício Badé, Abuhl Junior, Mestre Sapopemba, Luiz «Quiguiriçá», Soliano, Terreiro Recanto Quiguiriçá, Sthe Araujo, Lívia Mattos, Isaar,Manu Maltez e Caê Rolfsen.
Duração: 90 minutos (aproximadamente)
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia entrada)
Classificação: Livre para todos os públicos]
*A apresentação conta com interpretação na Língua Brasileira de Sinais (Libras)
Informações: www.auditorioibirapuera.com.br

Alessandra Leão

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