Quem cresceu com o “Sítio do Picapau Amarelo” na TV ou nos livros já tinha na cabeça imagens bem definidas para muitas das lendas brasileiras. Com a série “Cidade Invisível”, da Netflix, que imagina esses personagens inseridos na atualidade, a noção de folclore pode mudar para as próximas gerações. E isso significa ter menos medo da Cuca e do bicho-papão!
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Grande sucesso da plataforma, marca a estreia do diretor Carlos Saldanha no terreno do live-action. O carioca, que ficou conhecido pelas animações “A Era do Gelo” e “Rio”, é o showrunner da série, baseada em história de Raphael Draccon e Carolina Munhóz.
A trama é de fantasia, mas não deixa de enfatizar o quão reais são os efeitos do descaso com a natureza. Unindo as duas pontas do roteiro está o fiscal da polícia ambiental Eric (Marco Pigossi), que é arrastado para esse mundo mitológico, uma combinação de contos indígenas, africanos e europeus, depois de um crime bizarro. Saiba mais sobre os personagens.
TUTU MARAMBÁ
Quem diria que Jimmy London, da extinta banda Matanza, viraria o terror noturno das crianças? Na série, ele é chamado apenas de Tutu e é representado por um porco do mato, forma em que é mais conhecido na Bahia. No entanto, essa ‘família’ inimiga do sono, que conta ainda com o Boi da Cara Preta e o bicho-papão, também é descrita como uma sombra que castiga quem dá trabalho para dormir. Sua história mistura elementos europeus e africanos
IARA
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Versão nacional da figura bela, de voz encantadora, e que arrasta homens para o fundo das águas, a sereia da série se chama Camila (Jéssica Córes), cantora na noite carioca. A mãe d`água nasceu da lenda da índia que sofre emboscada dos irmãos, invejosos de sua inteligência. Ela os mata e, como punição, é jogada por seu pai no encontro dos rios Negro e Solimões. Seu corpo é trazido de volta das águas e ela assume sua metade peixe. Na versão 2.0, a sereia busca vingança ao ser traída por um amor
CURUPIRA
Interpretado por Fábio Lago, o Curupira de “Cidade Invisível”cansou da luta, deixou as matas e vive como um mendigo ranzinza e alcoólatra pelas ruas do Rio, sob o codinome Iberê. Sua cabeleira vermelho-fogo e os pés invertidos são disfarçados por sacos plásticos e uma cadeira de rodas. O personagem original surgiu de mitos indígenas, mas acabou se misturando às histórias de duendes que guardam as florestas, comuns na Europa. Os pés para trás, por exemplo, eram características comuns a seres descritos em histórias orais de lá e teriam sido uma contribuição da colonização portuguesa na construção do personagem. Em algumas regiões do Brasil, é conhecido como Caipora e, nesse caso, pode assumir a forma feminina
BOTO
O ser que deixa as águas à noite e seduz e engravida mulheres ganhou na série a alcunha de Manaus (Victor Sparapane), em alusão a suas raízes amazônicas. É chave para todos os mistérios da trama
CUCA
Alessandra Negrini é tão poderosa que é possível que a jacaré loura e cômica que representava a feiticeira no “Sítio” seja esquecida. Na série, ela é Inês, líder das lendas e simbolizada por borboletas. Além do jacaré, Cuca também é descrita no folclore europeu como uma bruxa horrorosa, que também amedrontava os mais levados
SACI
Assim como o Curupira, o menino danado de uma perna só, gorro vermelho e cachimbo na boca é um dos personagens mais queridos do nosso folclore. Na série, é vivido por Isac (Wesley Guimarães), um jovem marrento, que nem sempre pula de um pé só, graças a uma prótese, e mora em uma ocupação na Lapa. No Norte do país, ele era conhecido como um pássaro e, sob influência africana e europeia, se transformou nesse símbolo de travessuras
ERIC
O protagonista da série mostra, a princípio, o lado cético dos esforços de proteção ambiental, simbolizada na pressão que um vilarejo de pescadores sofre para deixar sua área. Em seu segundo papel na Netflix (o primeiro foi na série australiana “Tidelands”, de 2018), Marco Pigossi é um pai de família lidando com uma perda trágica, mostrada logo no início do primeiro episódio. A relação com a filha Luna (Manu Dieguez) e uma sequência de crimes estranhos o fazem mergulhar no fantástico universo das entidades folclóricas
CORPO-SECO
Até no reino folclórico há os vilões. Em “Cidade Invisível”, o mal é personificado pelo Corpo-Seco. A gente não pode dar spoiler, mas essa entidade incorpora em alguns personagens de “Cidade Invisível”. Também conhecido como Unhudo, essa figura descreve uma pessoa que cometeu grande maldade e, ao morrer, ficou preso entre céu e inferno, já que até a terra recusa seu cadáver. Um dos poucos humanos a ter sabedoria sobre o assunto é o pescador Ciço (José Dumont, na foto acima).