No domingo, a quarta temporada de “The Handmaid’s Tale – O Conto da Aia”, uma das séries mais relevantes (e assustadoramente visionárias), chega ao público brasileiro pela Paramount+. A plataforma disponibiliza os três primeiros episódios em uma tacada só. Os demais entrarão no catálogo semanalmente, sempre aos domingos.
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Enquanto as temporadas dois e três são baseadas no livro homônimo que inspirou a série, a autora Margaret Atwood se envolveu no roteiro de alguns episódios e também atuou como consultora. A escritora canadense pode ficar de olho no que aconteceu com seus personagens, especialmente naqueles mencionados em “Os Testamentos”. O romance de 2019, que é uma continuação de “O Conto da Aia”, também vai ser desenvolvido na narrativa nas temporadas futuras, incluindo a quinta, que já foi aprovada pela Hulu, que produz a série.
Abaixo, um papo do Metro com a protagonista Elisabeth Moss (June), que, além de produtora, estreia também como diretora.
Na nova temporada, o relacionamento entre June, a sua personagem, e tia Lydia [Ann Dowd] está muito mais intenso. Fale um pouco sobre isso.
Sim! Uma das temáticas com que lidamos nesta temporada é o poder. O que poder de verdade significa e quem realmente o detém. Esses foram grandes assuntos no livros e na série. Poder nem sempre é o que parece e pode ser perigoso, pode ser destrutivo. Acho que tanto June quanto Lydia estão buscando poder em suas jornadas, mas talvez de maneiras diferentes e com objetivos distintos.
O quanto sua vida mudou durante a filmagem da série?
Mudou de verdade. Assumir uma nova responsabilidade como produtora foi uma grande oportunidade. Foi muita sorte ser convidada para isso na primeira temporada e aprendi muito. Bem no começo, eu disse que não queria apenas o crédito, eu queria poder participar de verdade, ajudar e aprender. E todos os dias estou aprendendo com nossos produtores. Então, essa foi a grande transformação.
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Você também dirigiu três episódios pela primeira vez. Como foi?
Como June, eu estive intimamente envolvida na série desde o início, então eu a conheço muito bem. Não é uma transformação tão grande assumir essa posição. Eu aprendi muito como diretora, especialmente ao dirigir meus colegas. A grande diferença foi dirigir os atores porque eu estava super nervosa e não sabia o que dizer. Você não deveria dar orientações aos atores sendo também um ator. Fui treinada para não fazer isso! Mas, no final, isso acabou sendo a parte preferida de toda a experiência. Felizmente, nós temos um elenco incrível então foi como se eu ajustasse uma Maserati. Não é que eu estivesse consertando nada o que os atores estivessem fazendo, mas sim dando a eles algumas reflexões para trabalhar.
Como você se preparou para dirigir?
Eu senti que eu estava à altura da tarefa depois de alguns anos de observação, aprendizado e trabalho com muitos diretores incríveis. Eu tive muito apoio e roteiros incríveis. Eu dirigi o episódio três, que é o meu favorito. E o oito e o nove. Mas eu sou parcial.
‘The Handmaid’s Tale’ foi renovada para uma nova temporada. Quanto tempo a série deve durar?
Neste momento estamos tão orgulhosos de nosso trabalho e tão felizes sobre a história que eu não sei… Mas enquanto a história de June for interessante, nós estaremos aqui. Esta temporada está trabalhando com a ideia de que a vida é curta, o que é especialmente relevante depois do que passamos com a covid-19.
Vocês filmaram durante a pandemia?
Enquanto foi possível, sim. Nós criamos uma bolha com testes e quarentena rigorosos. Nós conseguimos continuar com as atuações, mesmo que estivéssemos restritos a duas pessoas em uma sala. Mas nós fizemos o que era preciso fazer e fomos muito gratos por isso.
O que esperar desta temporada?
Nós estamos acompanhando a grande obsessão de June por mudanças. É uma temporada nômade. Eu diria que a primeira metade da temporada é definitivamente maior do que a gente já fizemos. Foi incrivelmente desafiadora. Em termos de produção, foi bem fora da caixa. Os primeiros três episódios são bem impressionantes. É bem do tipo de coisa quando você acha que está indo de uma certa maneira no episódio um e então você tem uma transformação no episódio dois. Aí você tem mais uma transformação no episódio três e você nunca vai conseguir descobrir para onde a série está indo.
A série mostra um ataque ao Capitólio dos Estados Unidos que agora tem um contexto diferente graças aos eventos de 6 de janeiro (quando foi de fato invadido por manifestantes). O que você diria para aqueles que acham que a série está muito próxima da realidade?
Eu sempre recorro ao livro de Margaret Atwood, que foi escrito em 1985, e pareceu incrivelmente relevante e verdadeiro àquela época. Ela conta que nunca escreveu nada naquele livro que não tivesse acontecido antes ou não estivesse acontecendo naquele momento. E cá estamos, tantos anos depois. Nós ainda falamos e sentimos essa relevância.
O governo Trump perseguiu a série desde o começo. Você já percebeu que no futuro deveriam mostrar os problemas sistêmicos de nossa sociedade?
Parte desta temporada é sobre voltar ao normal. E o novo cenário político dos Estados Unidos pós eleição de Biden é algo que o público vai sentir metaforicamente na quarta temporada. Há muita raiva. Muitos querem varrer para baixo do tapete. E muito da história de June não pode ser ouvida. Nós não vamos esquecer! Só agora estou percebendo o quanto é relevante. Grande parte da jornada dela é sobre o desejo de dizer que tudo vai ficar bem e esquecer o que acaba de acontecer. Eu tenho vivido para essa personagem e agora, por meio dos questionamentos, vejo o quão relevante é tudo o que acontece na série. Estou chocada.
É uma enorme responsabilidade assumir os papéis de atriz, produtora e diretora. Você trabalha melhor sob pressão?
Sim. De verdade. É algo que aprendi sobre mim mesma na última década. Eu trabalho muito bem sob pressão. Eu adoro, quanto mais pressão, mais feliz eu estarei. Eu não sinto isso como um peso, é um privilégio e eu cresço com isso. Em todo esse trabalho eu sou apoiada por um grupo incrível de pessoas.