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‘Manhãs de Setembro’: Liniker inaugura nova fase para personagens trans

Cassandra com o filho recém-descoberto, na rotina familiar Divulgação

Série da Amazon Prime Video tem protagonista representando muito mais camadas do que discussão de gênero e aceitação. Fala sobre família, amizade e afeto de maneira delicada e bem-humorada

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Cassandra trabalha, tem uma kitnet para chamar de sua, relacionamento estável, turma ponta firme de amigos e job extra como cantora que dá vazão à sua paixão por Vanusa. Está plena e, por acaso, é uma mulher trans. Esse é o mote da série em cinco episódios “Manhãs de Setembro”, já disponível na Amazon Prime Video, que avança em relação ao que já existe na ficção escrita sobre personagens trans.

Essa é a estreia da cantora Liniker, 25 anos, em uma produção audiovisual, embora sua formação dramatúrgica, na Escola Livre de Teatro, tenha sido o seu primeiro passo artístico. “Sou atriz que por acaso virou cantora”, disse ela ao diretor Luiz Pinheiro no teste para a protagonista da série.

“Construir uma personagem a partir da rede de afeto que ela tem foi uma das coisas que mais me emocionou. Foi criar alguém com uma relação humana e social. Ela não estava encaixotada, como muitas narrativas e olhares audiovisuais colocam pessoas trans, que estão sempre à margem, sempre em situação de perigo e de violência”, diz Liniker.

A confiança da protagonista no projeto foi ainda maior ao saber que Alice Marcone estaria na mesa de roteiristas, o que traria mais autenticidade para a personagem. A escritora trans foi responsável pela história de Cassandra, ao lado de Josefina Trotta e Marcelo Montenegro.

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“A gente ainda tem uma virada de paradigma e vai realmente começar a falar de representatividade quando entender que pessoas trans ou negras não são o tema de uma produção, mas podem protagonizar filmes de terror”, diz Alice, citando os filmes de Jordan Peele (“Corra” e “Nós”). “O mercado brasileiro tem muita dificuldade de acessar essas narrativas. Ter diversidade de elenco e equipe é uma estratégia que vai gerar produtos inovadores”, pondera a roteirista.
Outras transições

Quando o público conhece Cassandra, a fase de transição de gênero parece ter sido superada. Seus principais conflitos são as avaliações negativas dos clientes do aplicativo para o qual faz entregas, explicar para o namorado (Thomaz de Aquino) que quer dormir sozinha na kitnet para a qual acaba de se mudar e convencer a amiga e dona do bar em que canta (Clodd Dias) que Vanusa, durante as gravações, é tão diva quanto Anitta e Beyoncé.

A velha vida bate à porta quando Leide (Karine Telles) aparece chamando Cassandra pelo antigo nome, dizendo que Gersinho (Gustavo Coelho) é filho dos dois.

O relacionamento conturbado dessa nova família tem muita resistência de Cassandra, que cede depois de descobrir que mãe e filho estão dormindo na rua. Paulo Miklos, Gero Camilo e Linn da Quebrada, em papéis menores, dão ainda mais charme àquela família ao redor.

Karine, versátil e experiente, é muito generosa com Liniker no jogo de cena. E a novata, que já brilha cantando os hits de Vanusa, revisita a sua primeira arte em sequências bastante exigentes ao lado de Gustavo Coelho e Thomaz de Aquino.

Vanusa morreu durante as gravações, no ano passado. Além de norte na trilha sonora, é também uma espécie de “consciência” da personagem. “Ela inicia muitas novas coisas na MPB e, na história, dá colo para a Cassandra. ‘Manhãs de Setembro’ me fez mergulhar na discografia e nesse corpo político dela”, avalia Liniker, sobre sua pesquisa.

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