Prestes a completar 20 anos de carreira, a banda Mato Seco retorna aos palcos com bons motivos para comemorar o reencontro com o público. Neste sábado (4), às 20h, eles se apresentam na Mooca, zona leste de São Paulo.
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Após meses a fio se apresentando em lives ou com apenas parte da formação, os sete voltam a subir juntos ao palco e abraçam oficialmente a chegada do trompetista Lincoln Martins.
“Ele é nosso metaleiro, agora faz parte da família agora também”, comemora Rodrigo Piccolo, vocalista e guitarrista da banda Mato Seco.
Além dos integrantes já citados, fazem parte da banda Eric Oliveira (guitarra), Osvaldo Ciziniaukas Jr. (contrabaixo), João Paz (órgão e piano), Tiago Rezende (bateria), Carlos Eduardo Gonçalves (percussão e voz) e Mauro Peres (percussão e voz).
O show na Mooca traz o som da banda um pouco diferente: eles se apresentam de forma acústica, com sucessos que marcaram os dezenove anos de carreira, além de canções produzidas ao longo da quarentena. São músicas do lançamento mais recente da banda, “Cartas da Humanidade para a Humanidade”, EP lançado dia 19 de novembro, marcando a importância da luta racial.
“O reggae é questionador, tem como dever ser educativo. É impossível fazer reggae, uma música com um cunho espiritual e social tão forte, sem falar desses assuntos. A gente sempre abordou esse tipo de assunto, mas agora ficou mais incisivo”, explica Piccolo.
Ao mesmo tempo, conseguir enxergar um ponto de luz nos momentos de trevas. O anseio da banda por justiça social caminha lado a lado com a busca por enxergar o que ainda resta de bom no mundo.
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O show da banda Mato Seco acontece no Javari StrEat Park, em comemoração aos três anos do espaço. Ele fica localizado na Rua Javari, 112 - Mooca. Os ingressos custam R$ 55 e podem ser adquiridos neste site.
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O Metro World News conversou com Rodrigo Piccolo, vocalista da banda Mato Seco, sobre o show e o novo EP, “Cartas da Humanidade para a Humanidade”. Confira:
Assim como toda a indústria musical, foram meses sem shows presenciais. Vocês sentiram falta dos palcos?
O último show foi em fevereiro de 2020. Até um mês atrás, o Mato Seco estava só por lives. Agora estamos voltando pra estrada, né? De pouquinho em pouquinho, com alguns projetos diferenciados. Fez falta ter contato com aquilo que nos alimenta todo dia, que é estar no palco. Acho que todo artista ensaia, escreve, faz o que precisa fazer para aquele momento maior que é estar no palco. Foi realmente uma jornada muito difícil de atravessar. Em contrapartida, a gente conseguiu encontrar esse outro lado da internet, que se tornou uma arma mais forte, ainda mais poderosa para nós, para o Mato Seco ou para todos os artistas, de uma forma geral.
E vocês são sete! Como foi manter esse contato entre os próprios integrantes, lá no início?
É, no começo nós ficamos pelo menos uns três meses sem contato, respeitando a quarentena e todas as recomendações da Ordem Mundial da Saúde. A gente acreditava que seria algo rápido, passageiro, quarenta dias talvez. Depois, já começaram a clarear as lives, a família Mato Seco começou a chegar mais forte ainda no distrito. Foi também quando começamos a gravar nosso EP. Então isso acabou fazendo com que ajudasse na nossa sobrevivência, tanto física quanto mental e espiritual.
Você falou sobre o EP, que lançaram em novembro. Ele fala muito sobre racismo. Como foi trabalhar músicas tão engajadas na questão racial?
O reggae é questionador, é espectador e o despertar de reflexão. Ele tem isso na sua essência, tem como dever ser educativo, construtivo. Na sociedade que a gente vive é impossível você fazer reggae, fazer uma música com um cunho espiritual e social tão forte sem falar desses assuntos. A gente sempre abordou esse tipo de assunto, mas agora ficou mais incisivo.
Sempre falamos de uma forma geral da justiça, da igualdade, do amor comum. Mas ser mais incisivo é muito por conta do governo que estamos enfrentando, que alimenta o ódio e todos os sentimentos ruins. [Nos últimos anos] aflorou muito o racismo, a homofobia, o machismo, a repressão, a opressão. Então acho que é impossível a gente não tocar nessa temática, para nós e para todos que trabalham com arte e cultura. É uma obrigação, um dever se levantar contra essas injustiças. Ainda somos um país colonizado, pelos de fora e por aqueles que têm dinheiro entre nós mesmos. É tempo de acordar e ver essa realidade.
E o público do Mato Seco recebe bem essas músicas com letras mais engajadas?
Sim. Na verdade, a cada música nova, eu sinto que quem realmente acompanha o Mato Seco espera até um pouco disso, sabe? Espera resistência, resiliência. Daí foi um caminho natural que o próprio reggae, o próprio Jah deu pra gente como missão. Eu sinto que as pessoas se sentem representadas, elas esperam que a gente tome essa essa frente.
A pandemia influenciou o processo criativo de vocês?
No caso específico do Mato Seco (mas não exclusivo), o que se tornou tão necessário durante a pandemia, era algo que a gente já vinha cantando há muito tempo. Então a gente passou a ter mais certeza ainda da nossa missão. A pandemia foi um momento muito difícil para todo mundo. Mas, como a gente costuma cantar, é ver no negativo o que é positivo. Mesmo com todas as dificuldades que a gente enfrentou, a gente nunca deixou de produzir e nunca deixou de manter essa ideia viva, mesmo nesse momento pesado. Então despertou muita coisa, foram muitos impactos, tanto positivos, quanto negativos. E um dos impactos positivos é que a gente conseguiu lançar uma canção com o João Suplicy, “Filhos da Quarentena”, e o EP, “Carta da Humanidade para a Humanidade”.
E como estão as expectativas para essa retomada dos shows?
Desde o começo dessa volta, o Mato acabou abrindo algumas concessões e fazendo algumas formações diferentes, no formato acústico. Então, em alguns lugares estão indo três, quatro de nós, outros lugares vai a banda completa, como no show na Mooca. Serão os sete da banda, mais o oitavo integrante, Lincoln. Ele é nosso metaleiro, agora faz parte da família agora também. A expectativa é boa demais, é uma felicidade estar retornando aos palcos. Mas também rezar e trabalhar em comunidade para que essa volta seja permanente, agora que a gente tem esse fantasma da uma nova cepa do coronavírus. A gente sempre tenta deixar claro para a galera o quanto é importante continuar se cuidando, independentemente de crenças pessoais, é importante tomar a vacina.