Como era a vida digital antes das redes sociais? Nos primórdios do mundo virtual, quando os computadores ainda estavam se popularizando, fazer desenhos no Paint e jogar Paciência ou Pinball eram atividades bem comuns.
Foi usando o programa da Microsoft que o aposentado Jorge Geraldo Bonin descobriu uma paixão: a arte digital. “Eu sempre gostei de desenhar. Vi no Paint uma oportunidade para isso, quando comecei a usar o computador”, conta.
Ele ‘descobriu’ o programa em aulas de informática, no final da década de 1990. Começou a desenhar na máquina da própria escola e, em pouco tempo, já ganhou admiradores. “Um dia, o professor me perguntou se eu usava aquele computador. Quando disse sim, ele falou: ‘antes de começar as aulas, os alunos de outros horários vão ali na sua máquina, pra ver se tem algum desenho novo’”, relembra.
De lá para cá, passaram-se mais de 20 anos e muito mais de 5 mil desenhos. Quem viu seus trabalhos ao longo desse tempo, sempre elogiou: Jorge tinha um blog, onde postava seus desenhos e recebia o carinho de fãs, mas o espaço não existe mais. Em seu lugar, agora há uma conta no Instagram, @jorge.artenopaint.
“Eu visitei um Instagram de uma senhora, que também faz desenho no Paint, e tinham várias pessoas seguindo. Foi o gatilho para criar uma conta para meu pai também”, explica o filho, Mateus Bonin. Agora, pretende ajudar o pai a expor seu trabalho nas redes sociais, onde sabe que o alcance é maior.
Jorge passa por diversos temas em seus trabalhos. Em um deles, retrata aves típicas da nossa fauna. Em outro, imagina como seria o inferno cristão. Num terceiro, explora a transparência de objetos de vidro em cenários escuros.
“É tudo no mouse”
Os primeiros desenhos de Jorge foram veleiros e aviões - ele é apaixonado por aviação. Segundo o próprio, ele começou com “alguns riscos” no Paint e foi treinando, até começar a dominar a técnica.
“É tudo feito no mouse. Eu crio linha por linha, coloco uma grade por trás e vou fazendo. Eu tenho uma inquietabilidade para desenhar aviões, mas também faço com base em alguma foto que vejo na internet. Ou da minha imaginação mesmo”, afirma.
Com tanta dedicação, ele diz não ter pressa em concluir um trabalho. “Dependendo do desenho, termino no mesmo dia, em algumas horas, mas alguns levam mais tempo. Às vezes, eu começo em um dia, salvo e depois volto para terminar”, relata.
As pinturas que estão postadas em sua conta no Instagram são de seus primeiros anos no Paint. Na época, muitos deles vieram dos momentos de intervalos, em seu antigo trabalho. Atualmente aposentado, ele era bibliotecário em uma escola pública, na cidade de Americana, no interior de São Paulo - onde nasceu e vive até hoje.
Em seu tempo livre no emprego, ele iniciava seus desenhos na máquina da escola e depois levava para casa. “Só cabiam dois desenhos no disquete”, recorda Jorge. Hoje os desenhos estão guardados em seu computador e alguns pendrives, mas pouco a pouco estão migrando para a nuvem e para as redes sociais.
“Já recebi muitos comentários dizendo que os desenhos lembram jogos do Mega Drive”, conta. O console era muito popular nos anos 1990 e é reconhecido por seus jogos 8-bit. Atualmente, o estilo faz parte de uma estética e é considerado vintage.
Sem nunca ter exposto em galerias ou ter estudado artes plásticas, Jorge Bonin resgata a memória da virada do milênio com suas pinturas virtuais. Seu estilo é muito próximo da chamada pixel art, movimento artístico que se inspira em elementos gráficos de sistemas computacionais antigos e dá origem a inúmeros memes nas redes sociais, atualmente.
“Eu vou desenhando. Quando eu estou inspirado, fico pensando ‘o que eu vou desenhar hoje?’. Esse é meu passatempo”, conclui.
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