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Novo em São Paulo, Museu das Favelas remonta memória das periferias

Espaço está localizado na região centro da capital paulista e, além de exposições, conta com centro de empreendedorismo

Museu das Favelas
Fachada do Palácio dos Campos Elíseos, sede do Museu das Favelas (Foto: Museu das Favelas)

Já se foi pouco mais de um mês desde que o Museu das Favelas foi inaugurado, mas ele segue como uma das grandes novidades culturais da cidade de São Paulo.

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Desde o dia 26 de novembro, quando abriu suas portas ao público, tem tido dias agitados. “Não tem um dia que a gente não tenha, no mínimo, 200 pessoas, em dias corriqueiros. Em um final de semana, a gente chega a um número de 500 pessoas. Isso dá um termômetro, né”, comemora a porta-voz da instituição, Carla Zulu, coordenadora de Relações Institucionais.

Atualmente, o museu conta com suas primeiras exposições, como as obras de Lidia Lisbôa (construídas com os coletivos do entorno da Luz), Adriana Barbosa (CEO da Feira Preta) e Paulo Nazareth.

“A pretensão é que esse museu seja [de temática] nacional, então as nossas curadorias já partiram de espaços nacionais: falamos com pessoas do Maranhão, do Recife, do Ceará, da Bahia, de Minas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul”, enumera Zulu.

Apesar de estar na Luz, bairro da região central de São Paulo, o museu facilita o acesso de quem mora nas periferias de um modo ímpar: indo buscar seu público dentro das periferias e levando-as até o palácio, sem custo algum.

É necessário que um coletivo de pessoas se organizem e entrem em contato com o museu para que isso aconteça. “O passaporte vai buscar as pessoas com o ônibus e depois as leva de volta na sua comunidade”, explica.

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Origem do museu

O museu nasceu de uma demanda popular, de construção de memória dos povos das periferias. O primeiro passo foi mergulhar na realidade das favelas, pessoalmente.

“Para entendermos o que a favela tinha de noção de acervo, de patrimônio. Para a gente não ser arrogante e construir algo que seja totalmente discrepante”, justificou a coordenadora. “Precisávamos que a favela tivesse totalmente inserida nesse contexto”.

Por isso, o museu foi criado bem antes de sua inauguração, lá no comecinho de 2022. Zulu foi a primeira funcionária contratada e, pouco a pouco, o espaço foi ganhando forma. A nova instituição começa sob o comando de um comitê curatorial, sem um curador fixo, enriquecendo seu olhar sobre as periferias.

Novo uso para prédio abandonado

O local escolhido para abrigar o Museu das Favelas foi o Palácio dos Campos Elíseos, construído com os recursos da fortuna cafeeira do fim do século 19.

“Aquele palácio foi construído por mãos de pessoas que não tiveram acesso a ele: imigrantes, pessoas que trabalhavam com serviço mais precarizado por conta do final da escravidão... Hoje, seus filhos e netos - e até me incluo nessa, como neta de retirante - tem acesso a esse espaço”, detalha Zulu.

“Vamos ocupar, reordenar e fazer essa alternância de ocupação de poder num espaço que simbolizou muito tempo essa aristocracia e agora vai simbolizar todos nós”, reafirma.

Antes de abrigar o Museu das Favelas, o palácio teve um histórico de ocupações: começou como residência do cafeicultor Elias Antônio Pacheco e Chaves, ex-vice-presidente da Província de São Paulo (cargo equivalente ao de vice-governador do estado); sede do Governo e residência oficial do governador do Estado de São Paulo; e Centro de Empreendedorismo do Sebrae.

Esse último uso sobreviveu, em parte, no novo museu. Se tornou o Corre, o centro de empreendedorismo conduzido pela equipe da instituição.

“Quando nós pensamos nele, precisava de um nome. O nome que nós ouvimos o tempo inteiro nas comunidades é “corre”, “olha vou fazer meu corre”, “eu vou ter meu corre” e ele virou o Corre”, explicou a coordenadora.

Vizinhança com a Cracolândia

Uma das dificuldades para a ocupação do prédio é o fato dele estar localizado a poucas quadras da Rua Helvétia, epicentro da Cracolândia na região central de São Paulo.

Contudo, isso não interfere no cotidiano do museu, garante a porta-voz. “A gente nunca teve nenhuma intercorrência de nenhuma de violência, nada disso”, afirma Zulu.

“Infelizmente o problema da Cracolândia não é um problema cultural e [o museu] é um equipamento cultural. Mas dentro do que a gente puder oferecer um copo d’água, sentar, descansar, nós não vamos cortar isso de forma nenhuma”, complementa.

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