A conclusão do relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre a queda de avião que matou a cantora Marília Mendonça, em novembro de 2021, apontou que não houve falha mecânica na aeronave. No entanto, o documento destacou que as linhas de transmissão de energia elétrica da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) contribuíram para a tragédia, assim como a ação dos pilotos, que fizeram uma manobra “precipitada” visando o pouso.
Conforme o relatório, entre os fatores que resultaram no acidente, está uma “avaliação inadequada” da pilotagem. “No que diz respeito ao perfil de aproximação para pouso [no local], houve uma avaliação inadequada acerca de parâmetros da operação da aeronave, uma vez que a perna do vento foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada para uma aeronave de ‘Categoria de Performance B’ em procedimentos de pouso”, destacou o Cenipa.
Segundo o Cenipa, a aproximação da aeronave “foi iniciada a uma distância significativamente maior do que aquela esperada” e “com uma separação em relação ao solo muito reduzida”. Isso significa que o avião estava mais baixo do que deveria naquele ponto.
Na avaliação de George Sucupira, primeiro conselheiro da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves, houve um “excesso de zelo” dos pilotos, que acabou contribuindo para a queda da aeronave.
“Os pilotos, por excesso de zelo, esticaram a perna ao invés de fazer a curva onde normalmente faziam, esticaram um pouco mais para dar mais segurança ao voo, porque a reta final seria mais controlada e conseguiriam um pouso mais tranquilo”, disse o especialista em entrevista à Rádio Eldorado.
“O que aconteceu foi que, na continuidade da perna-base, há uma torre e essa torre tem um cabo de para-raio em cima. Isso, no avião, você não consegue ver, porque o avião está a 200 km/h, você não enxerga um fio, e, quando ele fez a curva, a asa bateu no cabo e perdeu motor ali”, completou. “Se ele estivesse um metro acima, não teria acontecido nada”, ressaltou Sucupira.
Horas antes da divulgação do relatório do Cenipa, o advogado Robson Cunha, que defende a família de Marília Mendonça, disse em entrevista coletiva que o acidente não foi causado por erro do piloto, nem por falha mecânica.
“De modo geral, o Cenipa entende que não houve nenhum erro do piloto. Atitudes tomadas fora do plano de voo não são erradas”, ressaltou o advogado.
Linhas de transmissão
Segundo o Cenipa, a aeronave bateu em um cabo para-raios de uma linha de transmissão de energia da Cemig, que “possuía baixo contraste em relação à vegetação ao fundo”.
No entanto, conforme as investigações, não havia necessidade de sinalização da estrutura, uma vez que a linha de transmissão estava fora da zona de proteção do aeródromo e das superfícies de aproximação ou decolagem e tinha altura inferior a 150 metros – 38,5 metros. Por isso, segundo o Cenipa, “não representava um efeito adverso à segurança”.
Além disso, de acordo com o relatório do Cenipa, o piloto “possuía indicação de fazer uso de lentes corretoras devido a um diagnóstico de astigmatismo”. O não uso poderia ter o prejudicado de ver os fios da linha de transmissão.
“Uma vez que não foi possível confirmar se o PIC [piloto] fazia uso de lentes corretoras no momento do acidente, deve-se considerar que, em uma eventual ausência das lentes, haveria certa redução da sua acuidade visual e da percepção de profundidade”, diz o documento.
Relembre o caso
O acidente que matou a cantora Marília Mendonça ocorreu no dia 5 de novembro de 2021, em Piedade de Caratinga, em Minas Gerais.
Além da artista, também morreram na tragédia o produtor Henrique Ribeiro, o tio e assessor da artista, Abicieli Silveira Dias Filho; o piloto Geraldo Martins de Medeiros; e o copiloto da aeronave Tarciso Pessoa Viana.
O avião decolou do aeroporto de Santa Genoveva, em Goiânia (GO). A cantora se apresentaria naquela mesma noite, em Caratinga.
Na ocasião, a Cemig confirmou, por meio de nota, que o bimotor atingiu um cabo de uma torre de distribuição de energia elétrica quando se aproximava do aeródromo de Ubaporanga. Em seguida, caiu no curso d’água, o que vitimou todos os ocupantes da aeronave.
A cantora, apelidada pelos fãs de Rainha da Sofrência, tinha 26 anos e colecionava vários sucessos musicais do gênero sertanejo. Ela deixou um filho.
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