Nos últimos anos, as produções mexicanas experimentaram um crescimento sem precedentes nas plataformas de streaming, consolidando o talento e a criatividade do país na indústria internacional. Um dos projetos mais recentes e notáveis é “Ninguém vai sentir nossa falta”, série Prime Video ambientada nos anos 90 que conseguiu captar a atenção não só do público mexicano, mas também de telespectadores de todo o mundo. Esta série, composta por oito episódios, mistura nostalgia, crítica social e um drama adolescente que ressoa em muitos, transportando os espectadores para a era icónica de 1994, antes da tecnologia e das redes sociais dominarem a vida quotidiana.
A trama de “Ninguém vai sentir nossa falta” acompanha a história de cinco adolescentes rotulados como “perdedores” em sua escola, que decidem mudar seu destino por meio de um negócio de venda de deveres de casa e trabalhos escolares. Esta decisão arriscada não só os leva a experimentar a tão esperada popularidade, mas também a enfrentar as complexidades emocionais e sociais que a adolescência traz consigo. A história se passa em um contexto onde o México estava à beira de uma crise econômica e capta a essência dos anos 90 através de elementos como roupas, cenários e, principalmente, a nostálgica trilha sonora. Canções de Caifanes, Fobia e Magneto, juntamente com o tema principal da série interpretada por Julieta Venegas, “A donde va el viento”, contribuem para um cenário que revive a época para quem a viveu e a apresenta às novas gerações.
A verdadeira inspiração por trás de ‘Ninguém vai sentir nossa falta’
A autenticidade da série se deve em grande parte à inspiração pessoal de seus criadores. Em entrevista ao El País, Catalina Aguilar, diretora da série, e Adriana Pelusi, cocriadora e roteirista, comentaram sobre a origem da história e como surgiu a ideia de ambientá-la nos anos 90, evitando o uso de celulares e redes sociais, uma era que eles descrevem como “mais autêntica” em termos de relacionamentos e experiências. Pelusi, que também já trabalhou em outras produções juvenis, mencionou a principal inspiração: “O que nos motivou primeiro foi ser uma série sem celular, que hoje é como um impedimento dramático para os roteiristas”. Nas palavras de Catalina Aguilar, “as histórias de adolescentes são universais. “Você nunca para de crescer.”
Além da época e do enredo, os criadores queriam diferenciar “Ninguém vai sentir nossa falta” de outras séries juvenis, escolhendo personagens que parecessem reais e próximos do público. Como revelou Pelusi: “Pensamos em meninos que não seriam os protagonistas das outras séries. Nossos meninos são todos muito fofos e atraentes, mas não seriam as estrelas. Nas séries juvenis mexicanas, por exemplo, os protagonistas tendem a ser crianças ricas e com dinheiro, de famílias importantes... Todos tendem a ser lindos, também tendem a agir como suas tramas. “Se alguém é gay, não é o protagonista, é amigo do protagonista, mas não é a trama central.” Esta abordagem permitiu que os personagens de “Ninguém vai sentir a nossa falta” se sentissem autênticos e representassem experiências que, embora não sejam extremas ou glamorosas, captam as emoções e incertezas da juventude.
Uma reflexão cultural e social
O contexto da série, ambientada no México em 1994, desempenha um papel crucial ao adicionar um cenário de tensão e incerteza. Aquela época marcou o início de uma crise econômica que afetaria o país de forma duradoura, e a série aborda isso de forma indireta, sem tirar a importância das histórias pessoais dos personagens. Os cinco protagonistas enfrentam os seus próprios desafios e conflitos, mas também o impacto de viver numa sociedade à beira de uma grande transformação. Segundo a diretora Catalina Aguilar, “Ninguém vai sentir a nossa falta é uma história sobre a amizade e o seu significado nas nossas vidas, um tema que, independentemente do lugar ou da época, será sempre relevante”.
A série, ao evitar os elementos tecnológicos atuais, permite uma abordagem mais íntima e direta das relações humanas, algo que tem repercutido profundamente no público. O espectador encontra em “Ninguém vai sentir a nossa falta” um reflexo das suas próprias experiências ou, no caso das gerações mais jovens, uma janela para um mundo diferente mas fascinante. Em plataformas como o TikTok, o tema principal da série já está em alta, e a produção como um todo tem conseguido gerar uma conexão emocional com os telespectadores.
“Ninguém vai sentir nossa falta” não é apenas uma produção atraente pelo enredo e cenário, mas representa mais um passo no avanço da indústria mexicana no cenário global, reafirmando o talento e a criatividade do país. A série demonstra que histórias autênticas, contadas a partir de uma perspectiva realista e culturalmente fundamentada, têm o poder de transcender fronteiras e conectar-se com públicos de todo o mundo.