Nos EUA, todos os produtos com gorduras trans deverão ser retirados do mercado em três anos, segundo anunciou a FDA, órgão responsável pela análise de alimentos e remédios no país. Para muitos é balela, a capital mundial do hambúrguer jamais conseguirá acabar com a gordura trans nos alimentos. Mas a decisão põe ainda outras questões em pauta. Afinal, existe gordura boa? A resposta é sim, apesar de serem vistas como vilãs da alimentação, as gorduras têm papel fundamental no organismo
Basicamente, elas se dividem em três tipos: insaturadas, saturadas e trans. “É vital que as pessoas saibam diferenciá-las na alimentação para fazer escolhas mais saudáveis”, diz o médico endocrinologista e nutrólogo, Mohamad Barakat.
Vilão
Quem de fato merece a má fama que tem é a gordura trans. Pesquisas científicas embasam a decisão do governo norte-americano de bani-las do mercado. Os estudos comprovam o que médicos e pesquisadores há pelo menos uma década já apontam: não existe nível seguro para o consumo desse tipo de gordura.
Além de não trazer nenhum benefício, a gordura trans é prejudicial à saúde. Entre outros malefícios, eleva o nível do chamado colesterol ruim e diminui o bom (veja mais abaixo). “A América está doente, e o governo não está conseguindo pagar a conta”, diz Barakat.
A gordura trans está em quase todo alimento industrializado, biscoitos recheados, salgadinhos, margarinas, sorvetes, pratos congelados, sopas prontas, entre muitos outros.
Sobre o Brasil seguir o exemplo dos EUA em banir a gordura trans, o médico acredita que a chance é muito baixa. “A Anvisa não tem o contingente necessário para realizar esse tipo de fiscalização e controle de forma adequada”, afirma.
Veja os diferentes tipos de gorduras e melhore sua dieta:
Apesar da má fama, as gorduras têm um papel vital no organismo, mas não vale qualquer uma. Conhecer as diferenças entre elas pode ajudá-lo a melhorar a sua dieta. Conhecidos como lipídios, esses compostos possuem diferentes funções: formação de hormônio, fornecimento de energia, proteção de órgãos e transporte de vitaminas.
Anvisa vai rever rotulagem
“O que é bom para os EUA é bom para o Brasil.” A frase histórica é de Juracy Magalhães, primeiro embaixador brasileiro na terra do Tio Sam. Mas por que, então, não há nem sinal de que as gorduras trans saiam de circulação por aqui? É simples. Qualquer mudança deve ser discutida e aprovada pelos países membros do bloco Mercosul, informou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Especialistas apontam outro problema: as tabelas de valores nutricionais, descritas em porções reduzidas, mascaram ou ocultam certas substâncias. Dependendo da quantidade de gordura trans em um produto, não precisa ser declarada. “Entenderam que até determinada quantidade não faz mal, se você comer três biscoitos talvez o dano seja pequeno, mas multiplique esse ‘quase nada’ a todos os outros alimentos, e será prejudicial a saúde”, observa o médico Mohamad Barak.
No Brasil, a rotulagem nutricional é obrigatória desde 2003. Esse regulamento define as regras para a declaração padronizada do valor energético e de nutrientes dos alimentos. A norma prevê que as indústrias optem por declarar ou não valores de até 0,2g de gordura trans por porção de alimento. Esses valores, segundo a Anvisa, são considerados ‘não significativos’ e podem ser declarados como ‘zero’ na tabela nutricional.
A agência afirma que “a adoção desse critério está baseada em aspectos técnicos e científicos e que os valores adotados pela legislação nacional para gordura trans estão entre os mais restritivos em nível internacional”. Entretanto, a regulamentação no país já tem mais de dez anos, sem nenhuma revisão. Em resposta, a Anvisa informou ter iniciado trabalhos sobre o tema e que pretende apresentar proposta para pautar discussão sobre revisão da rotulagem nutricional.