O plano do governo argentino de povoar a longínqua Ushuaia, 3 mil km ao sul de Buenos Aires, surgiu no início do século passado, com a construção de um presídio federal. Em 1902, o então povoado ladeado pela Cordilheira dos Andes – que ali encontra o mar – tinha apenas 40 casas. De inóspito – pelo frio intenso o ano todo e pela dificuldade de acesso –, o local começou a ganhar impulso como um dos principais destinos turísticos da Patagônia com a inauguração de um aeroporto internacional em 1995 e de recentes melhorias na Ruta 3, a única rodovia que passa pela cidade. Números preliminares da Secretaria de Turismo de Ushuaia apontam que quase 400 mil turistas visitaram a capital da província da Terra do Fogo no ano passado, dos quais 37,5 mil brasileiros, ou 9,4% do total.
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Mas o que leva os brasileiros a este ponto quase fora do mapa? Os motivos são vários. Ushuaia é uma das cidades mais austrais do planeta – os nativos garantem que nenhuma outra está mais ao sul, mas Puerto Williams, no lado chileno, vence a disputa. No chamado Fim do Mundo, pode nevar em qualquer época do ano. A temperatura média anual é de 4,7ºC, com variação de -3ºC a 10ºC. No topo das montanhas, a neve está sempre presente. Há, inclusive, um ponto de fácil visitação, o chamado Glaciar Martial (7km do Centro). Agora, no inverno, a recomendação é subir cedo, já que o sol só aparece entre as 10h e as 17h. O acesso é gratuito e só pode ser feito a pé (cuidado com o chão altamente escorregadio!), já que o teleférico está quebrado há três anos. Quem curte esquiar deve ir aos centros invernais – o Cerro Castor é o mais conhecido.
Na área central da cidade de 70 mil habitantes, a rotina é a de uma localidade de interior, com praticamente nada de vida noturna. O comércio em geral e supermercados cobram preços altos pelos produtos, já que o frete é caro. Há cerca de cem hotéis e bons restaurantes. Ushuaia é extremamente segura. No mês passado, o crime de maior repercussão foi uma tentativa frustrada de roubo de carro por um ladrão desarmado, que acabou preso.
Os destaques no Centro são o Museu do Presídio
(R$ 45) e a famosa placa do Fim do Mundo junto à área portuária. É das proximidades que partem os barcos de passeios no Canal Beagle, que banha a cidade e fica na fronteira com o Chile. O passeio (R$ 170) é obrigatório para se ter uma visão geral da região. Nas duas horas e meia de duração, embarcações extremamente confortáveis fazem até parada em uma das ilhas. Nas agências de turismo há ainda sobrevoos (a partir de R$ 320).
O Parque Nacional Terra do Fogo, criado em 1960, protege florestas, montanhas e lagos em uma área de 68,9 mil hectares. No local, é possível fazer um dos passeios mais interessantes – principalmente para crianças –, que é circular no Trem do Fim do Mundo (R$ 121). A linha férrea mais austral do planeta preserva os 8 km finais de um trajeto de 25 km que os detentos faziam entre 1909 e 1952. Eles partiam da cadeia até o local para cortar árvores, usadas nas caldeiras na cidade. Os tocos ainda estão lá.
Para os mais aventureiros, a dica é fazer o passeio nos lagos da região em veículos 4×4 (R$ 365). Fora da cidade, há parada em um criadouro de huskies siberianos, onde é possível fazer um passeio com trenós puxados pelos cães. O roteiro cruza a Cordilheira dos Andes e normalmente inclui um almoço com o tradicional churrasco argentino. Um dos pontos mais fascinantes é o lago Fagnano, situado em uma região de falha geológica (encontro de duas placas tectônicas). Em 1949, um terremoto de 7,9 graus na escala Richter sacudiu o local, gerando ondas altas e elevando em 5m uma das margens. Oito pessoas morreram em toda a ilha da Terra do Fogo. Especialistas dizem que um novo abalo sísmico vai se repetir. só não se sabe quando.