Faltando três dias para o Dia Internacional da Cerveja, imaginem uma escola em que o lápis é substituído pelos grãos de malte. Onde o lúpulo toma o lugar da borracha. E que, ao invés de uma folha com perguntas, a prova final seja a degustação de uma cerveja. Esta é a Escola da Cerveja, a primeira organização educacional do Estado do Rio Grande do Sul a ensinar aspectos teóricos e práticos sobre uma das bebidas mais populares do mundo.
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A primeira “matéria” desta escola ensina a fazer cerveja de panela. Literalmente. Utilizam-se os ingredientes básicos (água, malte, lúpulo e fermento), um par de panelas e um fogão. O tempo médio para que a cerveja artesanal esteja pronta para ser consumida é de 20 dias após o início do processo. A espera, garantem os cervejeiros, vale a pena.
Um deles é o contador Davidson Sindra, 41 anos, que foi aluno da escola há três meses. Ele se interessou pelo universo cervejeiro graças a sua paixão por culinária. “Aqueles que, como eu, gostam de cozinhar também vão gostar de fazer cerveja artesanal. O processo é muito parecido. É fácil e recompensador”, conta.
Trabalhador no ramo da construção, Sindra viu a crise econômica desacelerar os negócios. Até que, há três meses, ele participou do curso de produção de cerveja artesanal. Desde então, vem aprimorando suas técnicas e melhorando cada vez mais a sua cerveja, a “Zinder Bier”, inspirada na escola alemã da bebida.
A última leva produzida por Sindra rendeu 26 litros de weiss – cerveja de trigo consumida principalmente no sul da Alemanha – e foi distribuída para amigos e familiares. Agora, seu objetivo é montar sua própria cervejaria, para transformar, oficialmente, sua paixão em negócio.
Visando atender os cervejeiros empreendedores, o diretor e proprietário da escola Marcelo Scavone, 43, desenvolveu o workshop Cervejaria de A a Z, que proporciona o aprendizado de aspectos práticos da montagem e operação de uma cervejaria. “Fazer é fácil, difícil é vender a cerveja”, diz Scavone, que também é sommelier.
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“É um treinamento totalmente prático que ensina os conceitos que norteiam a estruturação de uma cervejaria e a elaboração de um plano de negócios”, ressalta.
A maioria dos cursos tem duração de apenas um dia. O de produção artesanal de cerveja é tratado como um pré-requisito. A ideia é que o cervejeiro aprenda a fazer sua cerveja e depois se especialize em cada ingrediente.
Para isso, são oferecidos cursos como técnicas de lupulagem, uso de malte e até de “montagem” da água – neste, com a ajuda de um engenheiro químico, os aprendizes adicionam sais na água para deixá-la mais parecida com a de determinadas regiões do mundo. “Dá para transformar a água de Porto Alegre na do norte da Inglaterra ou do sul da Alemanha”, explica Scavone.
Fundada em 2009, a escola ganhou há dois anos uma sede própria – na rua Dr. Mário Totta, 406, bairro Tristeza – para comportar o número crescente de alunos. Atualmente, conta com 1,7 mil futuros cervejeiros e 130 turmas.
Mercado em crescimento
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de cerveja do mundo e o terceiro em consumo, ficando atrás de China e Estados Unidos, de acordo com a CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja). No ano passado, mesmo com o país em recessão, a indústria cervejeira foi a que mais cresceu. Apesar disso, o mercado da cerveja representa, atualmente, apenas 0,7% da economia do Brasil.
“Em Porto Alegre, por exemplo, há oito anos só existiam uns três bares de cerveja especial. Hoje tem no mínimo cem. É um mercado em pleno crescimento e, mesmo com a crise, a tendência é que só melhore”.