A Aids já não é mais novidade para a maioria das pessoas nem provoca o pânico de quando ocorreram os primeiros casos da doença no Brasil, nos anos 80. Apesar disso, os números de infectados vêm aumentando ano a ano.
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Para se ter uma ideia, houve cerca de 83,5 mil casos nos primeiros quinze anos da epidemia no país. No período de 1995 a 2004, foram registrados mais de 300 mil e, entre 2005 e junho de 2015, nada menos do que 410 mil ocorrências, de acordo com o último Boletim Epidemiológico HIV/AIDS, divulgado pelo Ministério da Saúde. A cada 15 minutos, um novo caso da doença é diagnosticado no Brasil.
Jovens: um grupo sem medo
Pessoas de 15 a 24 têm se tornado foco de atenção para as autoridades quando o assunto é HIV. E não é para menos: as taxas de Aids entre essa população mais do que duplicou nos últimos anos, segundo dados do Ministério da Saúde.
Para a infectologista Raquel Muarrek, do Hospital São Luiz, de São Paulo, o fato tem a ver com uma maior confiança nos tratamentos que a medicina oferece, fazendo com que os jovens se preocupem menos com a prevenção.
A pesquisa “Juventude, Comportamento e DST/Aids”, realizada pela Caixa Seguros com o acompanhamento do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), entretanto, revelou que os adolescentes também continuam desinformados e com falsas crenças quando o assunto é sexo: quatro em cada dez jovens brasileiros acham que não precisam usar preservativo em um relacionamento estável.
E quando a maior incidência é entre os adultos?
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Falar em sexo com preservativo como método de prevenção de DSTs pode até parecer conselho de pai para filho adolescente, mas a verdade é que a maior concentração dos casos de Aids no Brasil está nas pessoas de 25 a 39 anos.
Inclusive, é na faixa etária de 25 a 29 anos que há o maior número de casos de gestantes infectadas com HIV. Nos últimos dez anos, grávidas acima de 40 anos também têm aumentado as estatísticas.
Jean Gorinchteyn, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, um dos pioneiros em tratamento de HIV no país, destaca a importância do diagnóstico precoce, a fim de que a mãe não transmita o vírus para o filho. “Além disso, assim que a criança nasce, ela é submetida ao uso de antirretrovirais diretamente na via sanguínea”, complementa. Tudo para impedir a infecção.
Idosos também fazem sexo — e adquirem Aids
Se a expectativa de vida está aumentando, o número de idosos realizando as mais diferentes atividades também, incluindo sexo.
O problema: segundo Gorinchteyn, muitos não têm o hábito de usar ou nem quer sabem como colocar o preservativo, ficando expostos às DSTs.
Como consequência, o Ministério da Saúde revelou um aumento não apenas no número de pessoas a partir de 60 anos com HIV, como também um aumento no número de óbitos por Aids nessa faixa etária, que dobrou em 12 anos.
O caminho da prevenção
A principal causa para os altos índices de infecção está, sim, na ausência do preservativo. Do total de casos de Aids entre as pessoas a partir de 13 anos, a via de transmissão sexual é a responsável por 95,4% dos casos entre os homens e 97,1% entre as mulheres.
E nada de achar que exames com resultados negativos eliminam as chances de o parceiro estar com o vírus e transmiti-lo. Existe uma fase chamada de janela imunológica, conhecida também como o “período do falso negativo”. A ginecologista Ana Lucia Beltrame explica que janela imunológica é o intervalo de tempo entre o primeiro contato com o agente causador da doença e o início da produção de anticorpos pelo sistema imunológico, que pode levar meses.
Além disso, os sintomas passam, muitas vezes, despercebidos. A Aids propriamente dita só se desenvolve na última fase da infecção, podendo demorar anos, quando o organismo já está vulnerável a qualquer tipo de doença. Antes disso, a presença do vírus apresenta sinais parecidos com o de uma gripe, passa um período assintomático e só depois dá os primeiros indícios de pane.
Por isso, exames corriqueiros, incluindo imunológicos, são sempre muito bem-vindos para diagnósticos precoces.
Mas, vale reforçar, o caminho mais eficaz continua sendo o da prevenção. E, sim, o uso do preservativo é indispensável em todos os tipos de relação sexual, incluindo a anal e até a oral.