Estilo de Vida

Centro Obstétrico do Hospital Conceição será bunker de parto humanizado em Porto Alegre

Assim que a primeira  mamãe entrar no novo Centro Obstétrico do Hospital Conceição, inaugurado ontem, ela encontrará, de cara, um grafite na recepção. Na sala de parto, poderá usar a chamada bola suíça e o cavalinho, equipamentos que ajudam em exercício para o melhor encaixe do bebê, ou cromoterapia e aromaterapia, para relaxar. Porque no espaço recém-construído a ideia é que o parto seja natural, apoiado por diversos métodos conhecidos como não farmacológicos. Trata-se de uma nova onda, a do parto humanizado, que além de tudo busca empoderar as mães – elas decidem como querem ter o filho, de lado, de cócoras, com a presença de alguém ou sem ninguém. É claro que a novidade tem causado controvérsia entre os profissionais da saúde dentro do próprio Conceição, hospital com o maior número de partos em Porto Alegre – são, em média, 4 mil por ano.

A enfermeira Lisete Ambrosi, coordenadora da Linha de Cuidado Mãe-Bebê, é a grande entusiasta dos métodos humanizados. Com 38 anos de atuação no GHC (Grupo Hospitalar Conceição), calcula que já participou, direta ou indiretamente, no nascimento de 10 mil bebês. Ela se empolga quando o assunto envereda pelo empoderamento feminino na hora do nascimento. “A gente quer que a mulher se empodere com o parto. Que volte a acreditar que o parto é uma coisa boa”, afirma, destacando a total preferência pelos procedimentos naturais – ainda que cesarianas também possam ser realizadas no novo espaço.

A auxiliar administrativa Luciana Müller, 34 anos, dará à luz sua filha Sarah em agosto, no Centro Obstétrico, e conta que sente os efeitos benéficos dos métodos aplicados. Ela é mãe de Leonardo, quatro anos, o qual nasceu de cesárea. Luciana relata que agora se sente muito mais tranquila para o segundo nascimento. Não só porque é o segundo nascimento. “A sensação que eu tenho é que há uma maior quantidade de informações. Me sinto mais empoderada, mais preparada. Não há necessidade de grandes intervenções, isso tranquiliza a gestante.”

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Que tal cortar o cordão?
A equipe de Lisete peita o status quo. Assim que o bebê nasce, vai direto para o colo da mãe. Fica pele a pele por minutos, com cordão umbilical e vernix caseoso, aquela substância que fica sobre o corpo do recém-nascido. Nada de ir direto para o banho ou tomar vacinas. Depois, o familiar que estiver junto – o parto pode ser acompanhado – poderá cortar o cordão umbilical. A placenta? Se quiser, leva para casa.

As mudanças ocorreram aos poucos no Conceição, que atende essencialmente pelo SUS. Já há 26 anos não se faz mais tricotomia (cortes dos pelos). Em 2004, passaram a incentivar que as mães estivessem sempre alimentadas, furando um tabu. De lá para cá, a grande mudança é agora, com a nova ambientação – o velho setor é pequeno e as mulheres ficam em pequenas áreas tapadas por cortinas, uma ao lado da outra.

Mas há críticas. “Se algo der errado, vão chamar um médico”, comentou um funcionário, sobre os métodos alternativos. Para o ginecologista e oncologista do GHC Desidério Fulber, o melhor é unir as ideias da nova e da velha escola. “Precisa dar um tempo para ver se isso vai evoluir, observar dados estatísticos, e vamos avaliando. O que tem que ter é protocolos do Ministério da Saúde”, observa. 

Primeiras mães deverão chegar nesta semana
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, visitou ontem o Centro Obstétrico, e descerrou a placa inaugural. À tarde, os funcionários comemoraram com salgadinhos liberados em cima de uma mesa no meio do novo ambiente, que teve investimento de R$ 4,1 milhões. A expectativa é de que as primeiras gestantes sejam atendidas ainda nesta semana. A equipe tem quatro obstetras, três enfermeiros obstetras, 12 técnicos e duas auxiliares administrativas, que atuam 24 horas, em turnos. De dia, há uma assistente social e um psicólogo.

Depois de passarem pela recepção, as futuras mamães preencherão um cadastro – caso não cheguem já em trabalho de parto, obviamente. Entrarão no Centro acompanhadas de um familiar para passar pela avaliação de risco. Depois do exame, uma cor identificará se há algum perigo: vermelho (alto risco) ou laranja, verde, amarelo e azul, que é a situação mais branda. A seguir, a gestante passará para um dos dois consultórios para que um médico a examine. Se precisar de medicação (por enjoo, por exemplo), vai ao ambulatório e fica sob observação. Pode também fazer uma ecografia. Se não for preciso internar, volta para casa.  

Milhares de histórias
Lisete não foi mãe, mas é como se tivesse 10 mil filhos. Lágrimas enchem seus olhos ao contar histórias como a da moça que foi estuprada por um vizinho e engravidou. O marido ameaçou: ou entrega a criança para adoção ou se separa. Aos prantos após o parto, a jovem tomou o bebê nas mãos e, chorando, se despediu dele, pedindo desculpas. Outro caso foi o do bebê que nasceu sem uma mão. A mãe afirmou que não queria a criança. Apreensivos, os enfermeiros a levaram ao pai. Ele a recebeu com ternura e disse: “Meu filho”. E emocionou a todos ao convencer a mãe a tomar o bebê nos braços e aceitá-lo. 

 

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