Na contramão da França, que baniu o uso de aparelhos celulares nas escolas, no Brasil educadores integram o aparelho e similares na aprendizagem. Acedriana Vogel, diretora pedagógica do Sistema Positivo, que tem incorporado o dispositivo no aprendizado, fala sobre como esses novos usos estão mudando o jeito de ensinar e aprender.
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A resistência ainda existe?
Temos escolas no Brasil conveniadas ao Sistema Positivo que não permitem celular, só no recreio. A escola sempre resiste a novas tecnologias, foi assim com a caneta esferográfica no passado, pois encurtaria o tempo para refletir. Dá para imaginar a escola sem caneta hoje? O mundo digital faz parte da cultura dessa geração.
E qual a recomendação?
Nossa orientação é pelo uso, mas normatizado, como um código de ética do trabalho. Além do engajamento, envolver em atividades lúdicas para aprender mais e melhor. Não é uma solução para a escola, mas ferramenta a serviço da aprendizagem, o professor precisa usar a seu favor. Quem aposta no “monólogo do professor” está com os dias contados, mas obrigar sem preparar é complicado. O uso tem que ser planejado para enriquecer o trabalho colaborativo, interdisciplinar e em comunidade. Aí dá um salto de qualidade grande.
Qual o exemplo do Positivo?
Ao contrário do professor detentor do conhecimento, que trazia a novidade, hoje é feita uma sondagem na metodologia da “aula invertida”. O professor libera as atividades da aula seguinte para os alunos responderem digitalmente na plataforma virtual, que funciona no computador ou por app em smartphones e tablets. Assim, já com relatórios de desempenho, ele sabe como os alunos estão acerca de tal conteúdo e de onde partir, como abordar a aula para o coletivo, dando feedbacks para qual caminho cada um trilhar. É uma plataforma adaptativa, com percursos e atividades diferentes, pois cada um tem um tempo diferente de aprendizagem. Então, se o aluno já domina algum conteúdo, libera-se mais para ele não perder o interesse, por exemplo. Já o professor, mais um curador, tem condições de tomar as melhores decisões estratégicas do trabalho pedagógico.
Funciona para todas as disciplinas a todo momento?
Existe para todas as unidades temáticas e para todas as aulas, mas depende do professor. Pode ser todos os dias, por semana, ou em algumas datas no mês.
No que mais as novas tecnologias aparecem?
Em realidade aumentada, simuladores, proposta de trabalho em comunidade, uma série de recursos chamados de Objetos Educacionais Digitais. Às vezes pode ser o QR Code no livro. Qual a medida da Torre de Pisa? Passa o celular e traz isso para a sua mesa com a realidade aumentada. Hoje o simulador faz os processos de rotação e translação da Terra, que antes fazíamos com palitos, isopor e lanterna, simulando o sol.
A aprendizagem digital vai acabar com os livros em papel e a escrita?
Em Londrina temos uma conveniada totalmente sem papel, somente digital. [Livro digital] é uma tendência, embora tenha limitadores, como a questão da internet e estrutura elétrica – é importante ter os livros embarcados off-line. Mas esse mundo totalmente digital fica mais para o ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano) e médio. Antes dessa faixa etária o uso de qualquer aparelho deve ser dosado, até pela distração. E, de modo geral, não liberamos acessos que não sejam educativos.