Quem caminha junto vai mais longe. É com essa premissa que o Google está promovendo encontros de capacitação profissional e empreendedorismo para mulheres egressas do sistema prisional. O primeiro dia do Women Will ocorreu nesta terça-feira (23), no Campus do Google para startups, no bairro Paraíso, em São Paulo. Depois de um receptivo café da manhã, as participantes puderam acompanhar oficinas e bate-papos sobre liderança, comunicação assertiva, networking, autoimagem e como fazer negócios.
O projeto ocorre há dois anos e é fruto de uma parceria do Google com a Rede Mulher Empreendedora. A edição também contou com o apoio das ONGs Humanitas 360, Responsa e Passarela Alternativa. «A mulher é treinada para estar nos bastidores, discutir menos, negociar de um jeito diferente do homem. Hoje, nosso objetivo é mostrar que vocês podem estar à frente, em uma posição de liderança», disse a presidente da Rede, Ana Lúcia Fontes, na abertura do evento.
«Se a educação fosse melhor, as cadeias estariam mais vazias»
Das 92 mulheres presentes, mais de 60 eram egressas do sistema prisional. Uma delas era Sirlene de Lima, de 43 anos, que encarou a responsabilidade de contar sua história de frente para a plateia em uma palestra inspiracional. Nascida em Salvador, a farmacêutica falou sobre a importância e da educação e do afeto na vida de uma pessoa. E fala com propriedade.
Sirlene teve uma infância difícil, que lembra a realidade de tantas outras crianças no Brasil. A mãe era analfabeta e trabalhava como empregada doméstica. O pai, alcóolatra e violento, registrou ela e seus irmãos com outro nome, já que era foragido da polícia — o que ela descobriu só depois de sua morte.
Quando pequena, admite, não gostava de ir à escola. Matava aula e preferia sair com as amigas. «Não fazia coisa errada, não bebia nem fumava. Só gostava de sair mesmo», explica. Começou a usar drogas e, mais tarde, conheceu o atual ex-marido, com quem se envolveu com o tráfico. Na tentativa de ajudar um amigo a fugir da cadeia, foi presa.
Quando saiu da prisão pela primeira vez, teve dois filhos — o mais velho, hoje, tem 23 anos. A terceira nasceu dentro da Penitenciária Feminina de Sant’Ana, onde ficou detida pela segunda vez. «Aos olhos da sociedade, eu não tinha mais jeito. Egressa, sem faculdade, desempregada. Mas minha filha foi minha libertação», relatou. Depois dela, Sirlene voltou a estudar e hoje tem uma farmácia em São Caetano, no ABC paulista. E afirma categoricamente: quer uma vida diferente para a família. «Se a educação fosse melhor, as cadeias estariam mais vazias.»
Women Will
Na quarta-feira (24), segundo e último dia do Women Will, haverá oficinas de organização financeira, segurança digital e ferramentas digitais para empreendedores. O evento ocorre a cada três meses e cada edição foca em um determinado grupo feminino que não teve acesso a programas de capacitação, como mães de filhos pequenos, mães solo, mulheres maduras 50+ e mulheres transgêneros. Até momento, mais de 15 mil mulheres já foram treinadas em todo o país.
A porta-voz do Google, Jimena Tomás, explica que o projeto é feito em outras regiões do país, mas sem delimitação de público e em um único dia. Os próximos destinos deste ano são Recife, Goiânia e Rio de Janeiro.
Cresça com o Google
O Women Will faz parte de um programa chamado Cresça com o Google, iniciativa que oferece treinamentos gratuitos e ferramentas para capacitação de pessoas e empresas em habilidades digitais. O objetivo é aprimorar habilidades e estar preparado para o mercado de trabalho. Acompanhe aqui as datas dos próximos eventos.