Temperaturas mais baixas podem ser consideradas como inimiga para os donos de carros flex que costumam optar pelo etanol, pois ficam também mais comuns aquelas situações em que o carro não pega pela manhã.
Nós conversamos com um especialista para entender por quê isso acontece e também juntamos algumas dicas para você escapar dessa situação.
O engenheiro Clayton Zabeu, da Comissão de Motores Ciclo Otto da SAE Brasil, explica que, quando o carro não pega, o culpado é o ponto de ebulição do álcool. Ao contrário da gasolina, conta o especialista, o etanol hidratado é uma substância muito simples, composta apenas de álcool e água.
Assim, o combustível ferve apenas quando alcança 78°C. Antes de alcançar seu ponto de ebulição, contudo, a substância já está emitindo gases, em pequena quantidade. E esses vapores são o que permitem a ignição do veículo.
Ao contrário do que se pensa, o que entra em combustão no motor não é o líquido, seja gasolina ou etanol, e, sim, os gases que eles soltam. Por isso, quando está muito frio, o etanol emite pouca quantidade de vapores, e eles não são suficientes para dar a partida no veículo.
Já a gasolina, ao contrário, é uma mistura de diversas substâncias. Entre elas, existem pontos de ebulição de apenas 25°C, ou seja, à temperatura ambiente de um dia ameno. Por isso, o combustível é mais volúvel, e emite uma quantidade maior de vapores, facilitando a partida.
Claro que saber o que explica quando o carro não pega não resolve o problema. Por isso, Clayton Zabeu, da SAE, também nos deu algumas dicas para escapar dessa situação.
Em primeiro lugar, o motorista deve saber qual é o sistema do seu carro flex. Basicamente, ele pode ter ou não o “tanquinho” auxiliar. Nessa hora, além de dar uma espiada debaixo do capô, consulte o manual do proprietário para saber mais detalhes sobre o modelo do seu veículo e as necessidades específicas que ele pode ter.
Tanquinho
Se o carro tiver tanquinho, é preciso ter certeza de que ele está abastecido, e que o combustível lá dentro ainda está em boas condições, e não ficou velho. No geral, depois de três ou quatro meses, a gasolina perde sua validade, e já não funciona como deveria.
“Quando o carro não injeta o combustível do tanquinho na partida e ele fica lá sem ser usado, as frações mais leves da gasolina evaporam e vão embora. Aí, quando precisa, ela já não vai mais ser capaz de ajudar na partida”, explica o engenheiro.
Além disso, também é preciso observar se outros componentes do sistema de partida estão em boas condições. Se o carro não pega porque está abastecido com álcool, outras variáveis podem estar interferindo.
É o caso da bateria, do motor de partida e sistema elétrico, cita Zabeu. Quando o clima está mais frio, eles precisam de mais energia para funcionar, sendo mais exigidos. Por isso, é importante checar as condições desses componentes quando o inverno chega para não agravar a situação.
“Mesmo com gasolina o carro ia sofrer, mas com ela seria mais fácil”, comenta o especialista.
E sem o tanquinho?
Já se o veículo não tiver tanquinho, há menos que o motorista pode fazer para se safar da situação problemática. Da mesma forma que os carros com tanquinho, o sistema elétrico e de partida devem estar em boas condições. Nesse caso, serão até mais exigidos nos dias mais frios.
Os carros mais modernos, explica Zabeu, costumam ter sistemas de partida a frio que aquecem os bicos injetores para facilitar a vaporização do etanol. Esse aquecimento vai depender da energia elétrica.
Por isso, se o carro não pega, apesar de não ter tanquinho, a razão pode ser um defeito em um desses componentes.
Misture gasolina
Outra dica é de colocar um pouquinho de gasolina no tanque de combustível. Os carros flex foram feitos para andar com gasolina, etanol, ou qualquer mistura entre os dois.
Para dar um auxílio ao sistema de partida, o motorista pode colocar 5% de gasolina no tanque com etanol, explica o engenheiro. “Em um tanque com 50 litros, 2 litros de gasolina já resolveria”, indica Zabeu.