Na busca por uma relação mais equilibrada com a natureza, os animais e o planeta, o número de pessoas que tem adotado o vegetarianismo no Brasil está aumentando.
A prática, que consiste em não comer carne e alguns outros produtos de origem animal, abrangia cerca de 14% dos brasileiros, segundo levantamento do Ibope de 2018. Já a SVB (Sociedade Vegetariana Brasileira) estima que 7 milhões de pessoas sejam de uma corrente ainda mais específica: a dos veganos. Mas o que é isso?
O veganismo não é só uma forma de se alimentar. O termo, criado em 1944, descreve um movimento que envolve ética, política e estilo de vida. Quem é vegano não apenas não come carne, mas qualquer produto retirado de animais: leite, ovos, queijo, ou alimentos que, de primeira, muitos nem imaginam que possuem ingredientes não-vegetais.
E vai ainda além: veganos também evitam ao máximo roupas feitas a partir da exploração dos bichos, como botas de couro e casacos de pele, e cosméticos e medicamentos testados em animais.
Pode parecer radical, mas não é: segundo a SVB, o veganismo aumentou seu número de adeptos – nos últimos seis anos, a alta foi de 76%. Com mais informação sendo disseminada e mais marcas aderindo à causa, caminhar em direção ao ideal vegano é cada vez mais fácil.
O mês de novembro também marca o Dia do Veganismo e, para celebrá-lo, buscamos tirar algumas dúvidas e derrubar mitos mais populares sobre o movimento.
Vegano, vegetariano, ovolacto?
Ovolactovegetarianos:
- Não comem carne
- Podem consumir ovos, laticínios e outros produtos animais
Lactovegetarianos:
- Não comem carne nem ovos
- Podem consumir laticínios e outros produtos animais
Vegetarianos estritos
- Não comem nenhum alimento de origem animal
- Podem consumir outros produtos animais (roupas, cosméticos, etc.)
Veganos
- Não consomem nenhum tipo de produto com origem animal
- Não compram de empresas e marcas que testam em animais
MITOS E VERDADES SOBRE O VEGANISMO
O que veganos comem?
Boas refeições veganas costumam incluir proteínas vegetais como cogumelo e feijões, e grãos e sementes como castanhas e aveia. “O que eu mais escuto de quem transicionou é que o veganismo tornou sua alimentação muito mais variada”, conta a nutricionista Micaela Charlone. “A dica é tentar se desprender um pouco e conhecer novas receitas e ingredientes”.
Veganismo é dieta?
Enquanto uma dieta vegana pode trazer benefícios para a saúde, ela não deve ser encarada como uma simples forma de emagrecer. Charlone defende que o veganismo é mais do que isso. “É um posicionamento político e um estilo de vida.”
É caro ser vegano?
Não precisa ser. Um estudo publicado em 2015 na revista Journal of Hunger & Environmental Nutrition comparou dois tipos de dieta saudável, uma contendo carne “magra” e outra baseada em frutas, vegetais e grãos, e concluiu que a dieta que continha produtos de origem animal custava em média US$ 746 a mais por semana. Mas dá para perceber a diferença só de ir ao mercado. Faça um experimento: tente pensar nos produtos mais caros que você costuma encontrar nas compras do mês. Você pensou em carne, frango e frutos do mar ou arroz, feijão e batata?
Dá pra virar vegano de uma hora para outra?
Charlone conta que o processo é diferente para cada pessoa: “Tem gente que gosta de se jogar de cabeça, outros preferem ir mais lentamente, substituindo uma coisa aqui, experimentando outra opção ali”, diz. “O importante é buscar uma orientação nutricional e pesquisar bastante sobre o tema em fontes confiáveis.”
É impossível ser vegano para o resto da vida?
Para a nutricionista, é possível e saudável, além de ajudar o planeta e os sistemas alimentares. “Existem várias evidências científicas que apontam que veganos possuem risco reduzido para certos quadros, como diabetes e doenças cardiovasculares”, explica. “Inclusive, a redução drástica do consumo de carne é indicada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.”
O veganismo pode prejudicar a saúde?
O Conselho Regional de Nutricionistas – 3ª Região desmistifica esta questão em um parecer, explicando que “qualquer dieta mal planejada, vegetariana ou onívora pode ser prejudicial”. “O mais importante é lembrar que uma dieta vegana deve ser baseada em vegetais”, conta Letícia Oliveira, especialista em nutrição infantil clínica e comportamental.
E as vitaminas?
“É correto dizer que veganos precisam de suplementação de vitamina B12”, explica Charlone; a B12 atua no sistema nervoso e previne derrames cerebrais e problemas cardíacos. Outros nutrientes como proteína, ferro, zinco e cálcio podem ser obtidos através da alimentação, mesmo sem produtos animais.
Mas, afinal, ser vegano tem algum impacto real sobre o planeta?
Sim. Pesquisadores da Universidade Lund, na Suécia, Columbia Britânica, apontam que adotar uma dieta com base em plantas é uma das quatro ações mais efetivas para reduzir emissões de gases do efeito estufa e, assim, desacelerar as mudanças climáticas. Reduzir o consumo de produtos animais também é uma das únicas ações individuais que afetam, diretamente, as emissões dos gases metano e óxidos de nitrogênio.