Estilo de Vida

Uso de descongestionante nasal sem orientação pode causar intoxicação e até AVC, diz especialista

Projeto de lei que tramita na Câmara pede que produtos só sejam vendidos com retenção da receita

Projeto de lei quer exigência da retenção da receita
Uso indiscriminado de descongestionantes nasais gera riscos à saúde, alerta especialista (Reprodução)

A mudança na temperatura e a baixa umidade do ar faz com que o desconforto nasal aumente. Para tentar reverter os quadros de nariz entupido e coriza, muita gente faz o uso frequente de descongestionantes. A Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) alerta que a aplicação indiscriminada desses medicamentos pode atrasar o diagnóstico de uma doença, além de causar problemas cardíacos, glaucoma, intoxicação e até um acidente vascular cerebral (AVC).

ANÚNCIO

“O uso de qualquer medicamento sem prescrição médica pode atrasar o diagnóstico efetivo e consequentemente a solução para o problema. Por isso, o otorrinolaringologista deve ser consultado para avaliar e indicar o tratamento correto, seguro e individualizado”, orienta o presidente da ABORL-CCF, Renato Roithmann.

Ele diz que os cuidados com as crianças devem ser redobrados, já que o uso dos descongestionantes em excesso e a automedicação elevam os riscos de complicações nos pequenos. “Intoxicação é um dos riscos do uso de descongestionante nasal na dose incorreta e a causa de muitos atendimentos de emergência e internações”, diz o especialista.

De acordo com Roithmann, a congestão nasal é um mecanismo de defesa das vias aéreas, de anticorpos e das células imunológicas, para combater os germes invasores, enquanto a coriza lava e umidifica a cavidade nasal.

Como o nariz entupido frequentemente vem acompanhado por coriza, muitas vezes as pessoas consideram que a causa é justamente o excesso de muco produzido na cavidade nasal.

Porém, segundo o médico, o nariz congestionado com frequência é um sintoma que, geralmente, está associado a rinite ou sinusite, por isso, é importante descobrir a origem do problema.

Grávidas devem tomar bastante cuidado com o uso de descongestionantes nasais (Foto: Reprodução)

Tipos de descongestionantes nasais

Roithmann explica que existem dois tipos de descongestionante: o de uso tópico, em gotas ou sprays para aplicação dentro do nariz, e o de ingestão oral. Em forma de xarope ou comprimido, esse último só é liberado para crianças a partir dos 4 anos e, dependendo das formulações, a prescrição ocorre aos 6 ou só a partir dos 12 anos.

ANÚNCIO

Para grávidas e mulheres em fase de amamentação, a ingestão do medicamento oral é proibida. Já a versão tópica deve ser usada com muita cautela e com receita médica.

Em relação a todas as faixas etárias, a automedicação, seja com gotas nasais, sprays ou mesmo comprimidos, deve ser evitada. “A utilização de descongestionante nasal precisa passar por indicação médica, pois o seu uso contínuo pode levar ao efeito rebote, piorar a congestão e prejudicar a mucosa nasal, a parte interna do nariz”, alerta.

O médico destaca, ainda, que o uso frequente dos descongestionantes favorecem o vício, fazendo com que a pessoa sinta necessidade o tempo todo de recorrer aos produtos.

“A absorção dessas substâncias pelo organismo, durante um longo período de uso, pode aumentar o surgimento de problemas cardiovasculares, como arritmias, hipertensão arterial, e até glaucoma. Também afetam o sistema nervoso central, aumentando o risco de AVC (acidente vascular cerebral), insônia e ansiedade,” alerta Roithmann.

Exigência da retenção de receitas

Para evitar que as pessoas usem descongestionantes nasais sem a devida orientação médica, o Projeto de Lei 1478/2021, de autoria do deputado federal Zacharias Calil (DEM-GO), tramita na Câmara dos Deputados. Médico, ele pede que esses produtos sejam vendidos apenas com a retenção da receita, como já é feito com antibióticos.

Em termos legais, o projeto estabelece que os medicamentos que contenham substâncias com ação vasoconstritora de uso nasal estejam sujeitos a controle sanitário especial. Calil argumenta que o objetivo é reduzir a automedicação de descongestionantes nasais, que podem prejudicar o organismo.

O deputado também diz que o uso repetitivo de descongestionantes faz com que sejam necessárias dosagens maiores para se obter o mesmo efeito. Além disso, após o alívio inicial, existe uma “vasodilatação rebote” que torna a congestionar o nariz, o que faz com que o paciente volte a usar o produto.

“Esses dois fatores podem contribuir para um efeito viciante do medicamento”, disse o deputado, que afirma ainda que a prática da automedicação reduz a espessura da mucosa e pode provocar eventos sistêmicos como aumento da pressão arterial. “A adoção do sistema de controle sanitário especial para a dispensação desses produtos pode limitar seu uso em automedicação e reduzir os riscos inerentes.”

O projeto ainda aguarda para ser analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados.

ANÚNCIO

Tags


Últimas Notícias