Se falamos da civilização ocidental, a Itália, desde o Império Romano, passando pelo Império Bizantino, Renascimento e em todas as suas épocas, tem feito grandes contribuições para a cultura e sociedade. E isso é o que é magnificamente capturado por uma marca que tem sido uma carta de amor contínua para todas essas histórias: Dolce & Gabbana, liderada por Doménico Dolce e Stéfano Gabbana, que com sua exuberância e detalhismo, compilaram em várias temáticas, com a ajuda da curadora francesa Florence Müller, toda a história e homenagem aos detalhes únicos e transcendentes de seu país.
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Tudo isso na exposição: ‘Dolce & Gabbana: do coração às mãos’, que estará em Milão até 31 de julho e depois em outras cidades do mundo.
Isso, através da sofisticação, do barroquismo que choca muitos, mas que é um deleite para aqueles que amam a liberdade criativa, em bordados, em materiais como vidro, penas. Explorações que ficam aquém das palavras para descrever a beleza de sua linha de Alta Costura, que têm explorado em diferentes imaginários desde 2012.
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Assim, ponto por ponto, sedas, cristais, drapeados, exercícios com materiais e volumes: tudo isso é detalhado claramente em espaços de luz construída e tênue, como costuma acontecer nas exposições de moda (isso, para também não afetar o registro e a integridade das peças) tem muito mais iluminação e definição para captar cada detalhe.
Assim, detalhes como vestidos tropicais feitos com penas, vestidos rococó que evocam Maria Antonieta, Veneza, Sicília e suas tranças, retirados de suas coleções de Alta Costura (também têm, é claro, na exposição, Alta Joalheria e Alta Costura), tranças e outras técnicas de alfaiataria, são capturados por um dispositivo que em seu design é um acessório de moda e que em condições de luz extrema tem uma tela com imagem nítida.
Desta forma, o assistente se deixa envolver nesse universo de cores vibrantes e exuberância e nos retratos icônicos de Anh Duong, que até pinta cenas de O Leopardo e da própria Sofia Loren. Mas a partir daí, tudo muda para os trabalhos com cristais que a marca, - desde 2012 desenfreada em sua criatividade - recriou.
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Vestidos bordados com as técnicas mais finas da cristalaria veneziana, que tem suas origens na Idade Média. Sapatos de cristal. Quimonos. Vestidos translúcidos com detalhes de flores, estrelas, cristais de diferentes tamanhos, que dialogam com volumes prateados e peças de alta joalheria, que somente uma imagem pode capturar além do que o olho assimila.
E essas formas intrincadas se traduzem em uma encenação que em todas as 10 salas transmite essa magnificência: um vestido assimétrico de crinolina, apoteótico, com estampas de 'O Leopardo', aquele clássico de Luchino Visconti que falava sobre como essa classe nobre italiana se via em situações difíceis para se adaptar às mudanças sociais da Unificação (ocorrida em 1867).
Tudo, no meio de valsas, vestidos de luto vitorianos e diálogos com outro fascinante pilar do drama que faz parte da cultura italiana, ocidental e que a Dolce & Gabbana recriou magistralmente: o catolicismo e seu barroco, dominante por pelo menos quatro séculos, em preto e dourado, em luto e adoração, com capas, coroas, bordados e véus que evocam a majestosidade da estética religiosa.
Um passeio pela história italiana com Dolce & Gabbana
Dolce e Gabbana sempre tiveram uma oscilação criativa entre o terreno e o divino.
Um dilema que na exposição se depura de forma humanística e grandiosa em toda a compilação renascentista, que é um dos pontos culminantes da exposição: visuais que lembram o Palácio Farnese, com todas as pinturas de santos e homens que atingiram o auge de beleza e humanismo precisamente nesta época da história e que foram apresentadas em 2020, precisamente em Florença.
Casacos, vestidos, capas que evocam esses momentos divinos e humanos contrastam com sapatos e vestidos bordados com joias, com bolsas de elaboração intrincada, como se estivesse no meio de uma pintura de Botticelli. Blocos de cor e pinturas etéreas podem ser captadas em uma paleta de cores.
Mas tudo é interrompido, é claro, ao chegar a essa colorida e picante imagem que também faz parte do imaginário da marca e de suas publicidades há anos, na sala siciliana, com vestidos folclóricos e de carnaval, com estampas cotidianas que até se refletem em espelhos, eletrodomésticos, sapatos e óculos, e que também fazem parte de suas peças prêt-à-porter.
Uma sala que dialoga precisamente com outra que tem uma encenação ao vivo: uma alfaiataria italiana típica onde as trabalhadoras da marca estão trabalhando ao vivo, no meio de criações em andamento, já finalizadas, entre tecidos e ópera e vídeos de cada um dos processos de alfaiataria.
Mas a Dolce & Gabbana não perde a pompa com seu magnífico Barroco Branco, onde continuam explorando volumes e drama nesta estética católica e religiosa, mas com outros materiais. E, a partir daí, às civilizações que deram origem à história: as inspirações greco-romanas que têm mostrado desde 2019, com lantejoulas, mitologia, padrões gregos, bordados, pretos e corais.
Sandalia romana dourada com pedras preciosas. Uma estética que se orientaliza na parte Bizantina, com um trono que lembra o de Constantinopla, e onde de curvas se passa a esse trabalho com mosaicos que os designers exploram com cristais, lantejoulas e bordados, assim como em silhuetas limpas e modernas.
Como não se emocionar com um jumper bordado com lantejoulas douradas como um mosaico, com uma Virgem Maria ou um santo da época de Justiniano, por exemplo?
Mas isso não é tudo: como um ato quase final, era inevitável ter uma parte dedicada à ópera. Um suéter de Verdi ao fundo é uma humilde base para um grande manto que homenageia La Scala, outro a Turandot de Puccini, e um traje orientalista de Madame Butterfly. Um manto de marta e um vestido de flores que encerram com elegância uma exposição que é um presente do universo para aqueles que amam a complexidade na moda, sua vistosidade, seu dramatismo e seus devaneios criativos.
Isso sim: a marca, como em uma sinfonia, vai terminando com gotas de beleza e genialidade, com suas exposições de sandálias, óculos e alta joalheria no meio de salas palacianas com mosaicos de séculos anteriores.
Assim, já não há vestidos nos quais se perder ou maravilhar, mas sim colares de cristais impossíveis, óculos icônicos bordados, bem como sandálias revestidas desse barroco que se tornou sua marca registrada, no meio de mesas Império, esculturas romanas e salas que evocam justamente essa realeza que deu a este festim audiovisual, esta encenação, de uma marca que não deixa de surpreender em sua teatral interpretação da beleza - eterna - de seu país, para sempre e sempre.
“Dolce & Gabbana: do coração para as mãos”: Milão, Palácio Real - exposição até 21 de julho.