Apesar de o governo negar, o racionamento já é realidade para muitos moradores de São Paulo. O Jardim Ingá, um bairro da capital paulista, sofre com esse problema há mais de 26 anos.
ANÚNCIO
Em algum momento do dia ou da noite, eles ficam com as torneiras sem um pingo de água, relata a moradora Ana Maria Pereira. “Não tem água. Deu 21h, já foi. A hora que tu chegar [em casa], não tem mais água. Todo dia, todo dia. Pode estar frio, que não tem água; chovendo, não tem água”. E a situação ainda piora aos sábados e domingos. “Em fim de semana, é pior ainda. De fim de semana, não tem água nenhuma”, conta outro morador.
Apesar dos problemas de abastecimento, seu José Resende de Abreu, que vive na região, tem pagado mais caro pela água. Em março, foram R$ 138,80 gastos; já em abril, R$ 335,90. Ele garante que, nos canos da casa, não há problemas. “Não tem vazamento”, disse. Outra moradora também se revolta com a situação. “Nós estamos pagando só o ar dos canos”, fala Malvina Maria de Souza.
Resposta
Os moradores já fizeram um abaixo-assinado e chegaram a registrar três protocolos de reclamação na Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). “E sempre a resposta é a mesma: está verificando, verificando”, lembra a moradora Jucelina Sales.
Enquanto a reportagem estava no local, porém, uma equipe da Sabesp apareceu para verificar o booster, equipamento responsável pela pressão e distribuição da água. “Esse equipamento suga água lá e joga com mais pressão”, explicou um funcionário. “Todo santo dia a gente olha para ver se tem algum desligado. O equipamento está com água, tudo funcionando”. Mas, a cerca de 70 metros da central de distribuição, a torneira de uma casa continuava seca, como atestou a reportagem do “Café com Jornal”.
Professor da Universidade Mackenzie e especialista em saneamento, Paulo Ferreira explica que se o booster está funcionando, tem que haver água. “Ele está lá justamente para dar essa pressão [na distribuição de água]. Então, ele, a 70 metros, deveria estar com a pressão, a menos que ele estivesse desligado”.
ANÚNCIO
Bairro sofre com falta de água há 26 anos:
A associação de consumidores Proteste recomenda que, além de fazer reclamações com a empresa, os moradores procurem o Ministério Público. “Uma vez que teve uma resposta [da Sabesp] e não teve solução, devem buscar outras alternativas. Ele pode buscar órgãos de defesa do consumidor, a promotoria em busca de uma solução”, diz Maria Inês Dolci, coordenadora do Proteste.
Procurada, a Sabesp disse que não há registro de falta de água no bairro, e que não há racionamento ou restrição de consumo em nenhum dos 365 municípios paulistas atendidos pela companhia.
“Eu só queria saber por que todo dia não tem água aqui no bairro. Eu quero essa explicação”, diz Zilda Santos, moradora do Jardim Ingá. “E eu vou atrás dela até descobrir o porquê”.
Mesmo sem serviço, gasto de morador com água aumentou: