Brasil

Executivos da Camargo Correa confirmam propina na Petrobras

Em depoimento prestado nesta segunda-feira (4) à Justiça Federal em Curitiba, dois executivos da empreiteira Camargo Correa confirmaram ao juiz Sérgio Moro pagamento de propina em contratos com a Petrobras. Eduardo Hemerlino Leite e Dalton Avancini disseram que 1% dos contratos da empresa era pago às diretorias de Abastecimento e de Serviços. Os fatos são investigados na Operação Lava Jato.

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Os executivos relataram que o pagamento de propina era institucionalizado na empreiteira. Hemerlino Leite e Avancini disseram que, quando ocuparam cargo na diretoria de Óleo e Gás da empreiteira, foram informados, durante a troca de diretoria, sobre os pagamentos de propina.

Segundo Hemerlino Leite, a Camargo Corrêa pagou R$ 63 milhões à Diretoria de Serviços, então comandada por Renato Duque, e R$ 47 milhões, à Diretoria de Abastecimento. Os pagamentos ocorreram principalmente nas obras da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

“Na verdade, o que variava era a capacidade de cumprir esse fluxo. Como os valores eram muito altos, esse 1% era um valor significativo. Pelo menos na Camargo, por não operar sistema de caixa 2, havia uma dificuldade muito grande para efetuar qualquer tipo de pagamento e quase impossível honrar esse fluxo de 1%», disse Hemerlino Leite.

Segundo ele, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e Renato Duque, ex-diretor de Serviços, cobravam os valores devidos de propina mesmo depois de deixarem a Petrobras.

“Eu herdei essa pactuação. Me foi informado que isso [pagamento de propina] deveria ocorrer. Do ponto de vista, se isso representava alguma vantagem, eu diria que, se não pagasse, teria muita dificuldade da gestão contratual com a Petrobras. Era uma condição para celebrar o contrato. Você não paga na celebração, você paga durante, depois, durante a obra, mas você tinha que sinalizar a aceitação», declarou.

Dalton Avancini também confirmou que o pagamento de propina era «regra do jogo» para as empresas que tinham contrato com a estatal. «Existia um compromisso de 1% para a área de Abastecimento e 1% para a área de Serviços e que esses valores se destinavam a partidos. Quem apoiava área de Abastecimento era o PP e quem apoiava a área de Serviços era o PT», afirmou.

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Os dois executivos assinaram acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) e cumprem prisão domiciliar, monitorada por tornozeleira eletrônica.

Paulo Roberto Costa também fez acordo de delação premiada e cumpre prisão domiciliar. Renato Duque foi preso no mês passado na 12ª fase da Operação Lava Jato. A defesa do ex-diretor nega recebimento de propina no período em que ele comandou a Diretoria de Serviços.

Policial federal investigado diz que teve contato com Yousseff

O policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, vulgo «Careca», investigado na Operação Lava Jato, disse em depoimento prestado à Justiça Federal em Curitiba, que teve contato com o doleiro Alberto Youssef durante os depoimentos que prestou à Polícia Federal (PF), no ano passado, quando foi preso. Segundo o policial, antes dos depoimentos, Youssef ajudou a «lembrar» em quais locais ele esteve.

Ao juiz federal Sérgio Moro, o policial, que entregava propina a mando do doleiro, afirmou que teve contato com Youssef durante o período em que também ficou preso na Superintendência da PF em Curitiba. Segundo ele, as celas de ambos ficavam lado a lado.

Ao ser questionado pelo juiz se Youssef ditou o depoimento no qual ele citou políticos que teriam recebido propina a mando do doleiro, o investigado respondeu: “Se eu estava com ele [Youssef]. Eu desci na cela com ele. Eu desci lá e ele me passou em tal lugar foi isso, aquele hotel era de fulano», disse.

Durante o depoimento, o policial afirmou várias vezes que não se lembrava dos termos exatos do depoimento à PF. Ao ser questionado novamente pelo juiz, Alves declarou: “Excelência, isso aí [depoimento a PF] foi dito por mim. Alguma coisa foi pelo Alberto».

Apesar de confirmar algumas entregas de dinheiro, o policial disse que não tinha conhecimento do conteúdo dos pacotes. Ao ser confrontado com uma planilha apreendida com Youssef na qual o nome dele aparece, o investigado disse que não se lembrava de todos os pagamentos.

«Eu declarei [ no depoimento] porque eu iria declarar tudo que ele [Youssef] me falasse. Qualquer coisa que me falasse, eu iria declarar. Minha finalidade era sair de lá [prisão], não estava aguentando aquilo. Na minha concepção, eu não tinha porque estar ali. Eu não sabia da ilicitude», declarou.

Ao responder a uma pergunta feita pela defesa de Youssef, que estava presente na audiência, o policial esclareceu que o doleiro, apesar de ajudar a recordar os fatos, não pediu para ele mentir ou «inventar história» para sair da prisão.

Com base no depoimento de Jayme Alves à Policia Federal no ano passado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de inquérito contra o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) e contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O pedido foi aceito em março pelo ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Além de ser réu em uma das ações penais oriundas da Lava Jato, o policial federal foi afastado, no ano passado, do cargo por decisão do juiz Sérgio Moro. Ele não assinou acordo de delação premiada.

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