Com o mandato por um fio, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tenta se desvencilhar da corrida do calendário, que o empareda cada vez mais próximo ao juízo final da cassação. A situação o obriga a buscar alternativas para, no mínimo, atrasar ainda mais o processo, que se arrasta há oito meses. Se tudo correr conforme o planejado, o ex-presidente da Câmara pode viver os últimos dias ostentando na lapela o broche de parlamentar. Sucessor de Cunha na presidência da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) espera marcar a sessão de julgamento para a próxima semana.
Hoje, na volta do recesso do Judiciário, o STF (Supremo Tribunal Federal) receberá nos escaninhos um recurso contra a decisão do Conselho de Ética. É a primeira estratégia em curso. A defesa de Cunha sustentará que houve descumprimento do regimento interno na escolha do relator e que o processo se deu de forma sumária.
Esvaziar o plenário
O fim do recesso do Congresso já em meio às definições de candidatos para as eleições municipais de outubro surge como mais uma saída. Fiador do corte de pontos dos parlamentares quando presidiu a Câmara, Cunha agora espera que o alerta seja ignorado e a prioridade, como de costume, se volte aos palanques.
Para a perda de mandato ser decretada, 257 dos 513 deputados devem votar a favor da cassação. Quanto menor o quórum, mais chances para Cunha escapar, apesar do temor da votação aberta.
Construir uma situação de plenário vazio é avaliada pelo cada vez mais restrito grupo de deputados aliados, a maioria ligada ao Centrão, grupo político formado por parlamentares de 14 partidos que saiu derrotado nas eleições da Câmara.
Naquele que pode ser o primeiro teste de força entre o atual presidente da Casa e o antecessor, a presença maciça de parlamentares é o desafio. Maia já sinalizou que só irá pautar a cassação com plenário cheio, considerando que número elevado de ausências pende a favor de Cunha.
Resistência
O diagnóstico de reta final feito por aliados parece ainda não abater Cunha. Enfrentar o plenário que presidiu é opção mais provável do que abandonar o mandato, renunciando pela segunda vez em menos de um mês – ele deixou a presidência da Câmara em 7 de julho.
“Renúncia é foro íntimo. Não considero ser uma decisão que passa pela cabeça de Eduardo Cunha”, afirma um dos mais próximos aliados.
O eventual pós-mandato é que gera preocupação. A defesa trabalha desde já para que as acusações que pesam contra a mulher do deputado, Cláudia Cruz, e a filha do casal Danielle Dytz da Cunha, ambas investigadas na Lava Jato, saiam do Paraná e sejam transferidas para a Justiça do Rio de Janeiro. O fracasso, aliado ao temor da prisão, poderá estimulá-lo a recorrer ao fechamento de um acordo de delação premiada.